Carlos Perktold (*)
O leitor deve visitar o site da Sotheby’s e deveria estar atento ao lote n. 10 do leilão ocorrido em 20 de novembro desde 2024 em Nova Iorque. A empresa esperava vender uma banana colocada na parede com uma fita adesiva por um milhão de dólares, incluindo a comissão do leiloeiro e as taxas locais. A mesma que, quando apareceu inicialmente, foi vendida por US$ 165 mil. Incrível: houve seis interessados e ela foi vendida por seis milhões e duzentos mil. Sim, o leitor viu e leu algo inacreditável nesse novo mundo de absurdos. Dificilmente rico anda de mãos dadas com burrice, mas dessa vez esta abraçou o comprador com força. A banana está hoje no rol das peças contemporâneas que tem deixado o público perplexo pelo que vë em museus, galerias e leilões como este. O argumento utilizado pela casa de leilões e pelo comprador é que ele compra um conceito, recebe um documento e ele poderá, a qualquer momento, comprar uma banana ali na esquina, fixa-la na parede de alguma galeria ou em casa no futuro e se orgulhar de ser proprietário de uma peça que virou ícone.
Num mundo tão perturbado e cheio de guerra e falta de humanismo em toda esquina, não é de se admirar que fatos como este aconteça pelo mundo afora. Seis milhões de dólares compra muita coisa e o comprador comprará neste caso o direito de trocar de banana cada vez que ela for exposta ou apodrecer na parede. A que foi vendida foi comprada por US$ 0,35 pouco antes do leilão. A compra do conceito do “artista” que o criou poderá render lucro fabuloso no futuro por que o comprador poderá vende-lo mais adiante por outro preço multiplicado várias vezes, tão grande é a loucura no mundo das artes de hoje. Claro que ele terá que encontrar outro idiota mais rico que ele.
Se uma banana fixada na parede vale esse preço, quanto vale um Manet, um Picasso, um Di Cavalcanti, Portinari ou um Guignard pra ficarmos no nosso território? Quanto vale um simples desenho de Matisse ou um óleo de Modigliani? O céu é o limite pra tanta arte boa, assim como pra qualquer bobagem conceitual. Vale aquilo que o mercado paga e este é em parte constituído de gente rica, inculta e com esperança de ganhar dinheiro na compra/venda de porcarias como essa.
O leitor apaixonado pela arte contemporânea por certo me achará ultrapassado e desconhecedor do que é a nova arte. Lembro-lhes que toda arte é contemporânea: Da Vinci foi contemporâneo, Monet, Manet, Picasso, Modigliani e todos os pintores consagrados pela beleza de seus trabalhos foram contemporâneos de si mesmos. Não há novidade nesta nomenclatura, criada por leiloeiros que não sabiam o que chamar ou fazer com certas peças sem estilo e que foram aparecendo em suas casas para negociação e que encontravam compradores.
Cada vez que leio ou sei de algo parecido com este absurdo, visito museus e minha pinacoteca de modernistas e fico mais apaixonado pelo talento deles, suas composições, ritmos, cores e o conjunto que me causa prazer e alegria intelectual. Uma banana é uma banana e será sempre uma banana. No próximo leilão vou oferecer uma berinjela presa em fita durex. Quanto o leitor oferece? (*) Psicanalista. Integra a ABCA, AICA e o IHGMG.