Há milhares de pessoas pelo mundo afora que formaram um grupo chamado Stop Oil a declarar que o petróleo e sua exploração estão destruindo o planeta. Elas estendem faixas em locais de grande frequência popular, fazem manifestações e discursos agressivos exigindo o fim de sua extração. Imaginam ser possível parar a sua exploração, sem explicar onde empregaríamos os milhões de trabalhadores envolvidos na sua extração, refino, distribuição e em postos de gasolina pelo mundo afora. Acham que o Planeta Azul é mais importante que tudo isso. E em médio e em longo prazos, elas têm razão. Em curto prazo, se suas reivindicações forem atendidas, milhões morrerão de fome por pura falta de trabalho. Não haverá novos empregos suficientes para realocá-los. Deveríamos também começar uma campanha Stop Coal, uma vez que países europeus voltaram a usar o carvão como combustível, algo também poluente.
Nenhum integrante do Stop Oil explica como faremos para movimentar locomotivas, navios, aviões, equipamentos, portos, aeroportos, caminhões, automóveis e nem o que faremos com os milhões de empregados, que neste momento trabalham na indústria petrolífera desde a extração até a distribuição e venda em postos de gasolina pelo mundo afora. A crise de desemprego e fome pode ser mais grave que o presente assalto ao planeta.
Aquele grupo criou um slogan salvador: Stop oil. Ele acha que a melhor solução é chamar atenção do mundo pelo estrago que o petróleo anda fazendo nas cidades e mares. Imagina que a melhor solução para resolver este conflito climático, econômico, social e financeiro é jogar sopa ou massa de tomate sobre obras-primas de arte expostas em museu de prestígio. Quanto mais importante é o artista e sua obra atingidos, maior a repercussão. Van Gogh e Vermeer até agora foram premiados. Esqueceram-se de Picasso, mas pelo andar do realejo de protesto não demora muito as Mademoiselles D´Agnon em Nova York serão atingidas.
Para ratificar o espetáculo da notícia pelo mundo afora, um bem intencionado integrante faz um vídeo no celular enquanto dois outros jogam uma lata de sopa ou de massa de tomate sobre uma obra-prima exposta em algum museu de prestígio e o retransmite pelas redes sociais, atando-se nas paredes dos museus com cola especial ou com algemas. Felizmente as obras são protegidas por vidros especiais e o máximo que ocorre, além do escândalo, é mandar a moldura para restauração e limpeza.
Nada contra o protesto, que deve ser livre. O clima da terra está em alteração percebível desde a revolução industrial e agora pelo horrível verão europeu que passou, pelo derretimento das geleiras, pelo rigoroso inverno europeu que vem por aí e pelo verão escaldante nos trópicos. Algo precisa ser feito com urgência e a juventude que protesta, pensa em si e no futuro da humanidade. Mas é preciso achar outro caminho por que a agressão às obras serve apenas para divulgar o que o grupo quer e deseja, sem apresentar nova alternativa. E se a qualquer momento, por erro de cálculo ou por maldade intelectual, alguém decida fazer mais que jogar uma macarronada nas peças e o mundo perder uma obra-prima insubstituível enquanto o petróleo continua a jorrar nas torneiras do Oriente e da Venezuela?
Um dia o petróleo acabará. Ainda vai demorar várias gerações e o mundo então será tão diferente do que é hoje que nem mesmo um autor de ficção cientifica pode imaginar. Pode ser uma terra devastada pelo descontrole mundial denunciado pelo Stop Oil ou teremos descoberto novas fontes de energia capaz de fazer os mesmos navios, locomotivas, aviões, aeroportos, portos, caminhões e automóveis continuar a ser usados. Enquanto isso proponho deixar as obras-primas penduradas onde estão, sem achar que elas precisam de algum tempero culinário.