Parabéns ao leitor que gosta de arte. É um raro privilégio, sintoma de sensibilidade, bom gosto e olhar desenvolvido. Paredes nuas em nossas casas não despertam esses atributos nos filhos de quem os têm e menos ainda no adulto que pode desenvolvê-los. Apaixonar-se pela arte é um requinte intelectual, algo que nos torna mais humanos e é essa a sua principal função. Mas não é a única. Ela pode ser bom investimento financeiro ao lado do condão acima descrito. Por isso, o leitor não deve imaginar que o comprador do último quadro a óleo de Picasso, vendido por U$$ 180 milhões em maio passado, “gastou” esse dinheiro. Ninguém gasta essa importância num quadro. O comprador investiu esse valor e terá o privilégio de vê-lo durante vários anos e, quando achar que é o momento de vendê-lo, encontrará novo comprador e terá tido um lucro maior que certos investimentos financeiros. Ele e todos os seus colegas colecionadores que disputaram o quadro no leilão sabem disso. Dinheiro e burrice não andam de mãos dadas em lugar algum, muito especialmente acima da linha do Equador.

Mas o leitor neófito não deve imaginar que basta encher uma mala de dinheiro e sair comprando o que vê pela frente, mesmo peças de pintores consagrados. Para chegar ao apuro intelectual desse feliz e rico comprador de Picasso é preciso percorrer um longo caminho que começa pela paixão pelo desenho, pintura, escultura, aquarela, gravura ou outra técnica que a frequência em museus, galerias e leilões lhe despertará. Sem paixão e com dinheiro, corre-se o risco de pinacoteca cara e de baixa qualidade. Por isso, o iniciante deve se pautar em um critério que poucos amigos lhe informará: compre um quadro por ano se não puder comprar mais que um, mas compre o melhor que encontrar. Quadro bom sempre tem comprador. Quadro de qualidade duvidosa terá que aguardar na parede até que alguém, que está no lugar que o leitor esteve quando o comprou, se interesse por ele.

Para despertar ainda mais sua paixão, não perca visitas a museus, galerias, leilões, conferências ou cursos sobre arte. Rio de Janeiro e São Paulo têm os melhores museus do país e as mais belas exposições do ano passam por este eixo, portanto, cariocas e paulistanos têm, potencialmente, mais oportunidades de desenvolver seus olhares. Belo Horizonte tem alguns museus com acervos significativos e começa a melhorar. O Museu Inimá de Paula tem mostra permanente do que o artista fez de melhor. O Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte oferece o que a cultura mineira tem de melhor. Não os perca de forma alguma. Se vir a Minas, visite-os várias vezes. Em qualquer circunstância ou cidade, não fique apenas um minuto na frente de cada legado do artista de seu interesse. Pintura é uma escrita e deve ser lida como se faz com um conto ou com um romance bem escritos, por isso, requer um certo tempo de contemplação ou leitura. E nem se deixe saturar pela arte aqui, em Paris ou Nova Iorque. Três horas dentro do museu é mais que suficiente. Volte no dia seguinte se se sentir cansado e outras vezes ao longo de sua permanência em qualquer cidade. Artes plásticas são como a música: há sempre um acorde novo que foi percebido somente depois de se ouvir várias vezes a mesma sinfonia.

Ainda em Minas Gerais há o Museu da Pampulha, ou o Cassino, como gosta de chamá-lo o seu criador Oscar Niemeyer, a conter acervo exposto periodicamente e exposições de artistas novos. O Museu Mineiro tem imperdível acervo de obras sacras. E há ainda o absolutamente fantástico Jardim Botânico de Inhotim, no município de Brumadinho, a 60 km da Capital. É um deslumbramento em qualquer lugar do mundo. Pergunte a quem já o viu. Quando estiver nele, reverencie o seu dono porque tudo aquilo é particular e ele, generoso como poucos empresários brasileiros, o divide com a comunidade. Por fim, se for mineiro ou quando visitar Belo Horizonte, ande pelo “Corredor Cultural” na Praça da Liberdade e pela avenida João Pinheiro. Nele, há promessas sendo concretizadas de vários novos museus e exposições periódicas durante o ano inteiro. Em breve, será possível vermos as mesmas exposições do Rio e de São Paulo, formando então um triângulo artístico amoroso.

O leitor atento notou que este articulista não recomendou qualquer artista brasileiro nos quais deve-se comprar ou investir em arte. Não foi sem motivo. A primeira advertência é que se deve pautar pelo que se apaixona. Um amigo conhecedor de arte e com experiência no mercado pode ajudar muito o novo interessado, fazendo indicações em leilões ou galerias. Se ele é realmente seu amigo, mesmo que não concorde, acredite nele. Já vi quadros incrivelmente belos passarem despercebidos por pessoas que poderiam tê-los comprados por preços baixos e visto essas mesmas pessoas comprarem coisas que me deram vontade de sentar no chão da galeria e chorar de tristeza. Em segundo, lembre-se que se o seu interesse é apenas financeiro e é a curto prazo, a Bolsa de Valores pode ser mais vantajosa, mas a longo prazo os investimentos em arte são imbatíveis, acrescidos da certeza de eles terem contribuído com a sua cultura e aquela de seus filhos, algo que ninguém carrega nas sacolas de supermercados, mas que fica na família e é perceptível em qualquer lugar aonde um de seus integrantes vá.

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