Plinio, o Ancião (23-79dC) registra em sua História Natural, uma lenda que reconta a invenção da pintura. Uma jovem desejava ardentemente possuir uma imagem de seu amante que estava de partida para a guerra. Então, desenhou seu ombro sobre a parede. Esse relato mítico faz nascer a imagem de projeção de um objeto sobre uma superfície plana, ou a reprodução virtual partindo dos traços primitivos de pintura. O homem pré-histórico grava a pintura com elementos naturais que são decalcados sobre a parede da caverna, e que ficam nela aplicados, quando esses elementos são retirados. Esse sistema remonta de 30.000 anos a.C. As grandes realizações sobre pedra datam de 15.000 anos a.C. Com novas descobertas de cavernas, espera-se encontrar outros santuários assim decorados.

Essas cavernas são decoradas quase sempre com representações de animais: bisões, cavalos, mamutes, bodes, etc. A representação humana é uma exceção e a flora é inexistente. A vida e o pensamento do homem paleolítico são difíceis de se imaginar. Sob a luz de uma chama vacilante e, muitas vezes, em posições difíceis, eles pintavam com os próprios dedos, ou com instrumentos os mais rudimentares, como ossos de bois, plumas, decalque de peles ou tubos que lhes permitiam projetar a cor. As tintas provinham sempre de elementos naturais, como carvão de bois fazendo o negro, cinzas para compor o branco, pigmentos naturais, terras, ferrugens, etc. A paleta é reduzida a tons morenos, ruivos e vermelhos. Não se pode contemplar mais que o simples movimento dos animais, ainda que com toda sua vivacidade e perfeitamente transcritos. Era grande o senso de observação do pintor e também a sua grande inventividade, com a utilização de pedras de rocha como "sol imaginário", ou com a distinção visual entre patas que se encontram no primeiro ou no segundo plano. Mesmo que se suponha que tais pinturas respondiam a motivações primitivas, religiosas ou sexuais, seu significado real permanece até hoje um mistério. Ignora-se mesmo se essas pinturas podiam ter espectadores, pois eram executadas, às vezes, em locais praticamente sem condições de acesso.

 Esta irrupção da arte da pintura em épocas tão remotas é particularmente emocionante, traduzindo um irrepreensível desejo de criação, atendendo uma aspiração essencial de toda a humanidade.

 Dos túmulos aos santuários

 Tanto o Egito como o mundo helênico, Roma e o Ocidente medieval traduziram para a forma visual as suas crenças e concepções com relação à existência. Quase todos os motivos pintados tinham um fundamento religioso, sendo raros os temas profanos. Os afrescos egípcios, pintados em seus túmulos, retratam a viagem de um morto ao além. Curiosamente, essas obras de arte não eram destinadas a nenhum público, sendo mantidas em locais fechados, fora do alcance de qualquer espectador. A morte inspira também as grandes telas medievais, como "Le Triomphe de la Morte du Composanto de Pise" (Sec. 14) ou "Danse Macabre de la Chaiuse-Dieu" (Sec. 15). Foi, porém na História religiosa e na Bíblia que o Ocidente buscou sua principal fonte de inspiração. As paredes das igrejas se cobriam de pinturas, adaptadas ao plano da arquitetura. Nem a antigüidade, nem as épocas medievais criaram um espaço externo para a pintura. Elas se apresentam essencialmente nos grandes recintos sacros. Nos túmulos egípcios, as cenas se repartem em grupos, os personagens são alinhados, dando uma perspectiva distorcida dos seres. Todos os detalhes são ignorados, como se estivessem aceitando a morte como uma oferenda natural aos deuses.

Os ingleses medievais, igualmente, impõe uma certa divisão: as pinturas são organizadas em registros superpostos. Com Giotto, com a capela "Scrovegni a Padoue" (1301-1305), as paredes se cruzam e aparece uma profundidade; sobretudo, a pintura simula certos elementos de arquitetura, que se fundem à arquitetura real.

A pintura, aqui, revela a força da ilusão. As técnicas de pinturas murais utilizam o carvão, a dissolução de elementos, a têmpera e o giz. Porém, o afresco é bem melhor elaborado. Ele é aplicado sobre gesso fresco, tendo um ponto certo de preparo para garantir uma perfeita mistura com as tintas, permitindo vida longa da pintura. A consolidação se dá, geralmente, com cal hidratado misturado a areia. Os pigmentos são misturados com água. Tais técnicas são conhecidas desde antigüidade. Já Vitruve [arquiteto romano do Sec. 1ºaC] dava uma descrição precisa dela em seu Tratado de Arquitetura. O afresco foi utilizado na Grécia (Túmulo do mergulhador de Paestum), em Bizâncio e no período do Império Romano. A Itália transformou-a em um de seus mais privilegiados meios de expressão artística, atingindo seu ponto mais alto com Masaccio, Fra Angélico, Guirlandajo, Rafael e Miguelângelo. O afresco era pintura altamente admirada, pela sua dificuldade de execução. Só artistas mais avançados podiam se aventurar nela e os demais desistiam nas primeiras tentativas, pois a técnica requeria grande rapidez e destreza que só os grandes técnicos conseguiam alcançar.