A escola o reprovou
Algumas das obras de Rodin estão entre as mais famosas da escultura européia e universal. Retratista emérito, dominou o bronze e o mármore.
Embora acusado de formalismo pelo rigor anatômico de suas peças, destacou-se no período de transição da arte entre os séculos XIX e XX.
René-François-Auguste Rodin nasceu em Paris em 12 de novembro de 1840. Nascido numa família de poucos meios, estudou desenho e modelado a partir dos 13 anos.
Aos 18, após ser reprovado três vezes no exame de admissão à Escola de Belas-Artes, passou a trabalhar como moldador, confeccionando objetos ornamentais.
Os salões o rejeitaram
Em 1864 uniu-se a Rose Beuret, modelo dos primeiros retratos escultóricos e companheira de toda a vida.
Ao ter recusada a primeira obra que enviou ao salão oficial, "O homem de nariz quebrado" (1864), Rodin afastou-se das exposições e passou a colaborar com Albert-Ernest Carrier-Belleuse na decoração de monumentos em Bruxelas.
Fascinado com as esculturas de Donatello e Michelangelo numa visita a Florença e a Roma, escandalizou os meios artísticos parisienses com "A idade do bronze": era tal a perfeição da figura que houve quem o acusasse de ter usado como molde um modelo vivo.
A despeito do começo difícil, firmou-se como escultor com uma obra posterior, "São João Batista pregando" (1878).
Encomendaram-lhe então, em 1880, uma enorme porta de bronze para o futuro Museu de Artes Decorativas em Paris. Nela trabalhou por longos anos, mas deixou-a inacabada ao morrer.
Projetada como réplica da "Porta do paraíso", esculpida no século XV pelo italiano Lorenzo Ghiberti para o batistério de Florença, a obra -- conhecida como "Porta do inferno" -- deveria extrair seus temas da Divina comédia de Dante.
Após uma viagem a Londres, em 1881, onde tomou contato com as interpretações de Dante feitas pelos pintores pré-rafaelitas e por William Blake, em suas obras visionárias, Rodin alterou os planos originais, com a pretensão de fazer do monumento um universo de formas atormentadas pelas paixões humanas e a morte.
No decorrer do trabalho, imagens pensadas como partes da porta transformaram-se, em escala maior, em peças isoladas de alto impacto: assim nasceram "O pensador" (1880; Museu Rodin), "O beijo" (1886; Louvre), e "O filho pródigo" (1889; Museu Rodin).
Outra obra plena de expressividade, "Os cidadãos de Calais" (1884-1886), celebra o sacrifício dos habitantes dessa cidade francesa, os quais em 1347 haviam se entregado como reféns ao rei Eduardo III da Inglaterra na esperança de que este suspendesse o cerco que lhes era imposto.
Por volta de 1885, Rodin iniciou um romance com a aluna Camille Claudel, o mais tempestuoso dos muitos que teve, o qual terminou tragicamente.
Aos problemas amorosos, somaram-se os criados por novas encomendas: um busto de Victor Hugo teve de ser refeito várias vezes, entre 1886 e 1909, por mostrar o escritor de peito nu.
Já um monumental Balzac de corpo inteiro causou celeuma a partir de 1898, por já apontar para o ideário da arte moderna. Essa mesma obra, em 1939, foi posta no cruzamento dos boulevards Raspail e Montparnasse, em Paris.
Uma série de bustos, como o de Octave Mirbeau (1889), Puvis de Chavannes (1891) e Clemenceau (1911) contribuiu para situar Rodin como mestre na arte do retrato em relevo pleno.
O hotel que virou museu
Em 1908 o escultor se instalou no Hôtel Biron, palacete parisiense do século XVIII, transformado depois de sua morte no Museu Rodin.
Admirado pela elite européia e considerado uma glória da França, Rodin morreu em Meudon em 17 de novembro de 1917.
Em 1995, uma exposição de 58 peças suas no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro RJ, e logo na Pinacoteca do Estado, em São Paulo SP, atraiu cerca de meio milhão de pessoas, público nunca antes reunido em evento de artes plásticas no Brasil.