Considerado atualmente uma das maiores expressões plásticas do Simbolismo, Redon permaneceu desconhecido da crítica e do público até os 45 anos. Desde adolescente, produzia gravuras e desenhos a carvão com temas macabros e fantásticos, vinculados à vanguarda literária. Na década de 1880, porém, foi descoberto por escritores como Stéphane Mallarmé e começou a tornar-se famoso.
À medida que sua obra era cada vez mais difundida, os jovens artistas plásticos mostraram-se sensíveis à sua nova técnica e às suas imagens visionárias, chegando a considerá-lo um líder. A partir do final do século XIX, o artista abandonou a técnica monocromática e passou a dedicar-se ao pastel e ao óleo, produzindo obras gloriosamente coloridas, de composição sempre fantástica e inusitada.
"Os desenhos a carvão captavam o terror do sonho atormentado pela congestão. Aqui, era um enorme dado de jogo no qual piscava uma pálpebra triste; lá, paisagens secas, áridas, planícies calcinadas, terremotos, erupções vulcânicas que iam desenhando nuvens em revolta, céus estagnados e lívidos; às vezes também os temas pareciam inspirados nos pesadelos da ciência, remontando a épocas pré-históricas: uma flora monstruosa cobrindo rochas, e personagens nos quais a cabeça simiesca, a espessura dos maxilares, as arcadas superciliares salientes, a fronte fugidia e o alto do crânio oculto recordavam a cabeça ancestral, a cabeça do primeiro período quaternário, a do homem frutívoro e privado da palavra, contemporâneo do mamute, do rinoceronte de narinas divididas e do grande urso. (...) Esses desenhos iam além dos limites da pintura, introduziam um fantástico muito particular, doentio e delirante. (...) Tomado de um vago mal-estar diante desses desenhos, como diante de alguns Provérbios de Goya que eles lembravam, como também ao final de uma leitura de Edgar Poe, da qual Odilon Redon parecia ter transposto, para uma arte diferente, as miragens de alucinações criadas pela vertigem do medo e do mistério, eu sentia uma tristeza fascinante, e uma desolação lânguida emanava de meus pensamentos."
O trecho acima, extraído do romance À Rebours (Pelo Avesso), que o escritor simbolista francês Joris-Karl Huysmans (1848-1907) publicou no começo da década de 1880, é uma das muitas passagens da obra dedicada à descrição dos desenhos de Odilon Redon, então admirados pelos escritores de vanguarda e praticamente desconhecidos no mundo das artes plásticas. Avesso aos padrões dominantes da estética naturalista e impressionista, que acusava de limitar-se apenas à descrição do mundo exterior, Redon dedicou-se por várias décadas às gravuras e aos desenhos a carvão, criando imagens visionárias, que ilustravam a obra de escritores malditos como Edgar Allan Poe e chegavam a antecipar o Surrealismo.
Segundo filho de Bertrand Redon e Marie Guérin, Odilon Redon nasceu em 20 de abril de 1840, em Bordeaux, e passou a maior parte de seus primeiros anos sob os cuidados de um tio em Peyrelebade, a propriedade da família em Medoc, uma área montanhosa batida por fortes ventos, ao sul de Bordeaux. Mesmo quando se tornou um artista famoso, voltava à propriedade a cada verão: a atmosfera melancólica e as lembranças da infância ali passada continuaram a influenciar sua obra.
Redon era um menino introspectivo, que gostava de refugiar-se em leituras românticas. Demonstrou gosto pelo desenho desde a infância. Na provinciana Bordeaux, onde as novidades de Paris tardavam a chegar, Redon foi iniciado no desenho por Stanislas Gorin, admirador apaixonado de Delacroix, que incutiu no adolescente os princípios básicos do Romantismo, fazendo-o compreender que a obra de arte deveria expressar sensações e que as regras e fórmulas não mereciam crédito.
O APRENDIZADO DOS MISTÉRIOS
Em 1861, aos 21 anos, Redon conheceu o notável botânico Armand Clavaud, que se tornaria seu melhor amigo e mentor. Além de cientista, que contribuiu para inspirar a imaginação de Redon, Clavaud era erudito de grande fôlego e originalidade, pondo o artista em contato com a filosofia, a poesia e as artes gregas, medievais e indianas. Clavaud também se interessava pela literatura contemporânea e, por meio dele, Redon tomou contato com os escritos de Edgar Allan Poe e Gustave Flaubert.
Comparativamente, o aprendizado formal de Redon resultou em poucos benefícios. Por insistência do pai, estudou arquitetura e escultura, sem êxito. Em 1864, matriculou-se na Escola de Belas-Artes de Paris, sob a direção do respeitado mestre acadêmico Gérôme. Para um aluno com a sensibilidade e originalidade de Redon, a rotina do ensino acadêmico era intolerável. Desentendeu-se com Gérôme e deixou a escola, renunciando, assim, à possibilidade de uma carreira oficial de sucesso.
Redon procurou, em vez disso, orientação e instrução em um homem que já virara as costas ao mundo artístico oficial e que levava uma vida de boêmio pobre em Bordeaux: Rodolphe Bresdin. Vinte anos mais velho que ele, Bresdin trabalhava na obscuridade, produzindo águas-fortes e litogravuras cheias de detalhes, com temas fantásticos e sinistros. Esses estranhos e tardios florescimentos do Romantismo inspiravam-se nas pinturas de Dürer e de Rembrandt e tiveram um reflexo marcante no jovem Redon. Também começou a fazer águas-fortes altamente detalhadas, inspiradas nas imagens de Bresdin, e, tal como ele, preferia retratar cenas-misteriosas e imaginárias, rejeitando a arte naturalista então em voga.
Mesmo quando, na década de 1870, Redon foi viver em Paris, continuou em sua trilha solitária. Em 1874, ano da primeira exposição conjunta dos impressionistas, tornou-se um visitante assíduo do Salão de Madame de Rayssac, onde se encontrava com pintores e escritores mais velhos e que haviam conhecido Delacroix e Victor Hugo, os grandes heróis do Romantismo e que compartilharam e contribuíram para fomentar os ideais artísticos de Redon.
Um jovem que conheceu ali, o pintor floral Henri Fantin-Latour, tornou-se um amigo íntimo e o encorajou a enveredar pela litogravura como um meio de reproduzir seus desenhos e atingir um público mais amplo. Ele produziu seu primeiro álbum de litogravuras, Em Sonho, em 1879. Pelos vinte anos seguintes, dedicou-se exclusivamente a essa arte.
MUDANÇAS DE SORTE
A sorte de Redon atravessou uma pronunciada mudança depois de 1880. Nesse ano casou-se com Camille Falte, uma jovem que conhecera no Salão de Madame de Rayssac, dando fim à solidão e ao isolamento em que vivia. Em 1881 e 1882, em Paris, fez duas pequenas exposições de seus desenhos a carvão que marcaram efetivamente o início de sua carreira pública. Dois escritores, Émile Hennequin e Joris-Karl Huysmans, responderam com entusiasmo às ligações que viram e reconheceram entre os desenhos marcantes de Redon e a nova onda dos escritores decadentes. Por intermédio deles, Redon tornou-se publicamente identificado, para o bem ou para o mal, com o movimento decadente. Em 1884, Huysmans publicou seu romance À Rebours, aclamado como o manifesto dos decadentes. Seu herói é um aristocrata desencantado que se isola da sociedade num mundo particular de estranhos e perversos prazeres. Entre suas curiosidades, ele coleciona os desenhos a carvão de Redon — que Huysmans acabara de descobrir.
Foi seu aparecimento nessa novela que consagrou a reputação de Redon como um mestre da doença, do delírio e da depravação.
Embora a associação com os escritores do movimento decadente e simbolista trouxesse o reconhecimento a Redon, o artista sempre sentiu que seus objetivos estéticos eram incompreendidos por eles, que cometiam o erro de procurar significados precisos em seu trabalho. "Meus desenhos inspiram e não devem ser definidos. Não determinam coisa alguma. Tal como a música, eles nos conduzem ao mundo do ambíguo e do indeterminado."
Os artistas plásticos o teriam compreendido melhor, mas os contatos dele se restringiam quase que totalmente a escritores e intelectuais. Em 1884, porém, expôs na recém-fundada Sociedade dos Artistas Independentes e, em 1886, participou da última mostra impressionista, fazendo amizade com Georges Seurat e Paul Gauguin. Também expôs com o Grupo dos XX, constituído na Bélgica e dedicado aos temas simbolistas.
UMA VISÃO MAIS CLARA
O efeito desses novos contatos com pintores tornou-se evidente na década seguinte. Redon sempre havia pintado — embora pouco — paisagens e estudos florais, mas até aproximadamente 1890 a cor não desempenhou um papel significativo em seu trabalho. A influência de Gauguin mudou tudo, e Redon deu início a uma nova carreira como colorista, produzindo pastéis e pinturas em cores vivas, que faziam dramático contraste com seus sombrios "negros", como denominava seus desenhos a carvão e litogravuras. Nos últimos vinte anos de sua vida, até morrer, em 1916, Redon criou uma obra nova, feita de imagens alegres e otimistas — retratos, nus, flores, mitologias —, das quais as horríveis e macabras obsessões de seu trabalho anterior foram banidas.
A causa dessa metamorfose reside na vida pessoal de Redon, marcada por intensos sofrimentos que abriram caminho para a mudança. Após a morte de seu pai, em 1874, Redon viu-se envolto numa longa e lastimável disputa familiar pela herança das propriedades. Em 1886, seu primogênito, Jean, morreu aos 6 meses, e, nos anos seguintes, muitos de seus amigos mais próximos morreram — Hennequin, Bresdin, Clavaud, Mallarmé e Chausson. No início da década de 1890, Redon passou por uma espécie de crise religiosa e, em 1894/5, sofreu uma séria doença que aparentemente foi um divisor de águas em sua vida. Ao recuperar-se, abandonou a introspecção melancólica e a ansiedade religiosa anteriores. Ligados a essa ressurreição estavam a venda, em 1897, de Peyrelebade, o cenário de sua infância, e o nascimento do filho, Arï.
Apesar de seus 50 anos, Redon viu-se, na década de 1890, rodeado por jovens pintores que, ao contrário de muitos artistas de sua geração, compartilhavam de suas mais profundas convicções artísticas. Em particular, o grupo que se auto-intitulava os Nabis — Maurice Denis, Paul Sérusier, Pierre Bonnard e Jean Edouard Vuillard, entre eles — via em Redon um líder que, sozinho, buscava uma arte expressiva e espiritual. Um amigo de Gauguin, Emile Bernard, assim como o jovem Matisse, também estava entre seus admiradores, enquanto os marchands Durand-Ruel e Vollard expunham suas obras, contribuindo para estimular uma aceitação mais ampla. Redon ganhou uma nova confiança com esse apoio. Tornou-se mais otimista e ousado em sua utilização da cor.
UMA CLIENTELA LEAL
Até sua morte, em 1916, Redon se manteve uma figura reservada, apesar dos louvores que lhe foram conferidos no início do século XX. Em 1903 foi agraciado com a Legião de Honra. No ano seguinte, o Salão de Outono promoveu uma exposição dedicada à sua obra. Apesar disso, seu público permaneceu diminuto, restringindo-se a um grupo de leais e dedicados colecionadores — Gabriel Frizeau, Arthur Fontaine, Gustave Fayet e André Bonger —, que encomendaram muitos dos grandes painéis e telas decorativas, verdadeiras obras-primas da última fase do artista.