Delacroix foi um dos maiores pintores do Romantismo. Segundo a crença popular, era filho ilegítimo do famoso estadista Talleyrand — fato nunca suficientemente esclarecido. O certo é que, quando jovem, Delacroix recebia uma respeitável ajuda do governo, como se alguém muito poderoso o estivesse beneficiando em segredo.
Freqüentava os círculos elegantes, onde era, aliás, muito requisitado, apesar de sua personalidade turbulenta, que se ocultava sob grande encanto pessoal. Expôs inúmeras telas no Salão de Paris. A crítica em geral recebia seus trabalhos com frieza, mas muitos de seus quadros foram adquiridos pelo governo. Nos últimos trinta anos de sua vida, Delacroix pintou murais gigantescos para igrejas e edifícios públicos da capital francesa. Morreu aos 65 anos de idade em isolamento voluntário.
Um Espírito Febril e Conflitante
Figura fascinante, Delacroix, por trás do encanto e dos gestos elegantes, escondia uma impetuosidade vibrante e turbulenta, quase selvagem, apenas revelada em sua arte.
Ferdinand Victor Eugène Delacroix nasceu no subúrbio parisiense de Charenton-Saint-Maurice em 26 de abril de 1798. Sua mãe, Victoire, provinha de uma ilustre família de desenhistas de móveis da casa real francesa. E seu pai, Charles Delacroix, era membro do governo revolucionário, tendo votado pela execução de Luís XVI em 1793.
Charles foi também ministro das Relações Exteriores, mas, em 1797, foi rebaixado de posto, pois o nomearam Embaixador da República francesa na Holanda. Estava portanto no exterior quando Eugène nasceu. Tanto é que estudos recentes revelam dúvidas acerca da verdadeira paternidade da criança.
Apesar de o próprio Delacroix não ter, aparentemente, tomado conhecimento, circulavam rumores de que seu pai verdadeiro era uma figura muito mais poderosa. Pois Charles foi substituído no Ministério das Relações Exteriores por Talleyrand, amigo da família e um dos mais brilhantes estadistas de seu tempo. Tudo indica que o grande Talleyrand resolvera conquistar não apenas o cargo de Charles Delacroix, mas também, temporariamente, sua mulher.
Após retornar da Holanda, Charles foi nomeado prefeito do Departamento de Gironda, e a família se transferiu para Bordeaux. A cidade era tranqüila, se comparada a Paris, mas a infância de Eugène não foi nada monótona. Ao que se sabe, aos 5 anos de idade, já tinha quase se enforcado, queimado, afogado, envenenado e asfixiado. Quase se enforcado ao prender a cabeça nas rédeas de um cavalo, que o arrastou; queimado, quando ateou fogo ao cortinado que cobria sua cama; afogado, quando sua ama, acidentalmente, deixou-o cair nas águas do porto de Bordeaux; envenenado, pela inadvertida ingestão de acetato de cobre; e asfixiado ao engasgar-se com uma uva.
A vida escolar em Bordeaux já era um pouco menos excitante. Delacroix revelara aptidão para a música, e o organista da cidade, que conhecera Mozart, encorajou-o a estudar violino. Mas em 1805, quando Eugène tinha 7 anos, o pai morreu, e, alguns meses mais tarde, a família retornou a Paris. Eugène entrou para o Liceu Imperial, onde teve um bom desempenho, embora sem qualquer brilhantismo, demonstrando entusiasmo pela literatura. Passava as férias na Normandia, na magnífica propriedade de seus primos. Era uma mansão anexa a uma antiga abadia gótica, cujas pitorescas ruínas causavam forte impressão no espírito do menino. Começou a desenhar, no que foi encorajado por seu tio Henri Riesener, também ele pintor de talento. Juntos, faziam visitas ocasionais ao estúdio de Pierre-Narcisse Guérin, um proeminente pintor acadêmico e professor de renome.
Em 1814 morreu a mãe de Delacroix, deixando-o inconsolável. O jovem Eugène foi morar, então, com sua irmã, Henriette. Mas por pouco tempo, pois ainda nesse ano ela envolveria a família em alguns processos legais desastrosamente dispendiosos, acabando por levar todos à falência. Um ano depois, com a determinação que seria uma de suas características mais marcantes, Eugène inscreveu-se como aluno no estúdio de Guérin.
UM APRENDIZADO CLÁSSICO
Em 1816, Delacroix ingressou na Escola de Belas-Artes, então dominada pelos pintores neoclássicos, partidários de um programa de ensino rigidamente formalista, que privilegiava o estudo dos modelos em gesso de esculturas gregas e romanas e desenhos do natural com modelos nus. O desenho meticuloso e os temas edificantes da História Antiga e da mitologia estavam na ordem do dia.
Um dos alunos era, no entanto, um jovem chamado Théodore Géricault, que estava interessado em desenvolver uma forma de expressão absolutamente pessoal. Em 1818 Delacroix observou o trabalho de Géricault, que pintava sua imensa tela retratando os sobreviventes de um naufrágio: "A Balsa do 'Medusa". Ficou tão entusiasmado — lembraria ele posteriormente — que, ao deixar o estúdio de Géricault, começou a "correr como um louco", sem parar, até chegar em casa.
Os resultados desse encontro puderam ser apreciados em 1822, quando Delacroix completou sua primeira grande tela e a exibiu no Salão oficial. Naquela época, o sucesso nessa mostra pública era fundamental para a carreira de um jovem artista, e Delacroix se lançou nesse empreendimento com todo o vigor, produzindo uma tela de grandes proporções, com um tema nada convencional: A Barca de Dante, inspirada no "Inferno" da Divina Cormédia.
Abandonava, assim, os tradicionais mitos e heróis gregos. Foi uma sensação. O Barão Gros, um dos pintores prediletos de Napoleão, emoldurou à própria custa o quadro, que, mais tarde, seria adquirido pelo Estado e exposto nas galerias do Palácio do Luxemburgo.
Delacroix saiu da Escola de Belas-Artes em absoluto triunfo: 24 anos de idade, fervilhando de ambição e confiança no próprio talento. Começou a escrever um diário, num esforço consciente de examinar suas idéias, motivações evivências. Envolveu-se nos inflamados debates artísticos da época, penetrou no círculo dos escritores românticos, que se rebelavam contra a tradição acadêmica e normativa, buscando a verdade em suas próprias respostas emocionais em face da realidade. A segunda grande obra de Delacroix a participar do Salão — Os Massacres de Quios — reflete essa preocupação e inaugura a violenta disputa entre românticos e discípulos da escola neoclássica.
Apesar das duras críticas, o artista manteve-se alheio à opinião pública e fiel à inspiração que o levara a retratar um episódio sangrento ocorrido na época, durante a guerra de independência da Grécia. Gros voltou-se então contra seu protegido, qualificando o trabalho como "o massacre da pintura" . Mas Delacroix também tinha defensores, e sua importância para a nova geração de artistas era agora incontestável.
Nos anos seguintes, o Romantismo estava em pleno florescimento, e Delacroix foi reconhecido como o principal pintor do movimento, apesar de sua recusa constante em aceitar o papel de líder de qualquer escola. Apaixonado por história, teatro, música e literatura, entregou-se à efervescência artística e social, lendo diversos autores românticos e partilhando do entusiasmo pelas apresentações do Hamlet de Shakespeare que agitaram Paris em 1827.
Nos círculos aristocráticos era tido como um homem elegante, extremamente culto e espirituoso, porém altivo. Mas tinha uma perturbadora natureza dupla. Por detrás daquela fachada impecável, havia um temperamento violento, uma alma selvagem. O poeta Charles Baudelaire o descreveu como "uma cratera vulcânica artisticamente encoberta sob arranjos de flores".
O ESPÍRITO DO ROMANTISMO
Em 1827 Delacroix expôs uma terceira obra importante no Salão oficial: A Morte de Sardanapalo. Inspirado num poema de Byron, o quadro expressa uma violência e um erotismo que são do próprio Delacroix. Foi a ruptura definitiva entre a crítica conservadora e o artista. Os mais reacionários ficaram horrorizados e tentaram persuadir o jovem pintor a se agarrar ao seu talento sem desperdiçá-lo com tais excessos. Até mesmo Delacroix teria se chocado pelo que a tela revelava de sua própria sensualidade reprimida. O artista tinha muito medo de perder o autocontrole e liberar seus impulsos mais íntimos.
Talvez Delacroix estivesse por demais seduzido por suas próprias experiências sensuais. Em sua juventude viveu uma série de envolvimentos amorosos, os mais marcantes com Elisabeth Salter, uma jovem inglesa, criada de sua irmã, e com sua prima Joséphine de Forget — ligação que durou trinta anos. Com o passar do tempo, no entanto, seus relacionamentos com mulheres foram adquirindo o caráter de franca amizade, destituída de sexo. Aos poucos, foi-se tornando mais solitário e mais preocupado com o trabalho. A saúde tornou-se um sério problema.
Desde 1820 vinha sendo acometido por uma febre tão intensa que o obrigava a ficar de cama por vários dias; e por toda sua vida sofreu ataques de laringite que se tornavam cada vez mais preocupantes, deixando-o debilitado e apático. Apesar de toda sua energia e vigor, Delacroix era um homem frágil. A intensa dedicação ao trabalho tinha que ser compensada por períodos de descanso.
No Salão de 1831 expôs a tela A Liberdade Guiando o Povo. Pintou-a cheia de entusiasmo para glorificar a democracia e, exaltar a revolução do ano anterior, que conduziu Luís Filipe ao poder. Foi um sucesso absoluto, que confirmou sua superioridade sobre os pintores que se opunham às insípidas produções da Escola de Belas-Artes e ao rígido classicismo defendido por seu rival Ingres, à época o único verdadeiro expoente da pintura "oficial". A esse panorama somou-se um extraordinário período de bem-aventurança na vida de Delacroix, que acabaria por determinar novos rumos à sua arte. Por influência de amigos, foi escolhido para acompanhar o Conde Charles de Mornay numa visita ao sultão do Marrocos. Em janeiro de 1832 a comitiva partiu para Tânger e Meknes, passando também pela Espanha e Argélia. Depois de anos compartilhando a devoção dos românticos ao orientalismo, Delacroix ficou maravilhado com o que viu. A brilhante luminosidade e a riqueza de cores da Africa deixaram-no extasiado.
Presenciou cenas que os românticos apenas podiam evocar pela imaginação: cavalos de batalha, bravos e nobres guerreiros, mulheres enclausuradas em haréns e religiosos muçulmanos circulando pelas ruas. Ficou tocado, mais ainda, pela simplicidade e dignidade do povo islâmico, cujo heroísmo comparou ao dos gregos. As fortes recordações e as centenas de esboços e anotações forneceram-lhe inspiração para o resto de seus dias.
ENCARGOS GOVERNAMENTAIS
Ao retornar à França, o governo começou a encomendar painéis monumentais a Delacroix. Era o reconhecimento oficial. Embora continuasse a pintar telas "de cavalete" com crescente desenvoltura e liberdade, os grandes painéis decorativos passaram a absorver a maior parte de seu tempo e de suas energias. Inicialmente, entre 1833 e 1837, decorou o Salão do Rei do Palácio Bourbon. Depois, durante nove anos, dedicou-se à biblioteca do mesmo palácio (1838/47) e, por sete anos, à biblioteca do Palácio do Luxemburgo (1840/47). De 1850 a 1851 trabalhou na Galeria de Apolo no Museu do Louvre. Vieram então os murais do Salão da Paz na Prefeitura de Paris (destruídos durante os conflitos da Comuna, em 1871) e, finalmente, de 1849 a 1861, o trabalho na Capela dos Santos Anjos da Igreja de Saint-Sulpice.
Impôs-se a si mesmo uma carga volumosa de tarefas. Trabalhava ininterruptamente meses a fio para cobrir imensas áreas de paredes e tetos elaborando desenhos preliminares, fazendo inúmeros esboços e comandando seus assistentes.
Um amigo escreveu: "Para imaginar o que era aquele trabalho, era preciso vê-lo ao fim do dia, pálido, exaurido, mal podendo falar, arrastando-se como se tivesse sido torturado". Enquanto isso, continuava a escrever pacientemente seu diário e inúmeros artigos para jornais e revistas, trabalhar num dicionário — jamais publicado — e a produzir centenas de telas com temas de inspiração africana.
Como distração, Delacroix freqüentava, pelas manhãs, os salões dos ricos mecenas. Tinha pouquíssimos amigos verdadeiros — entre eles, Frédéric Chopin e George Sand.
UMA GUARDIÃ CIUMENTA
Ao se aproximar da meia-idade, eram cada vez mais raras suas aparições em público. O trabalho absorvia todo seu tempo. Sua fiel governanta, uma camponesa bretã chamada Jenny Le Guillou, guardava-o ciumentamente numa reclusão cada vez mais acentuada. A partir de 1844, Delacroix alugou uma casa em Champrosay, nos bosques próximos a Fontainebleau, para se recuperar da doença e do cansaço resultantes do trabalho. Dali se mudou para seu estúdio em Paris, na rua Notre-Dame-de-Lorette.
Em 1855, quando tinha 57 anos, uma retrospectiva de sua obra alcançou notável êxito. Delacroix foi premiado com a Grande Medalha de Honra e a comenda da Legião de Honra. E, em 1857, foi eleito membro da Academia de Belas-Artes — suprema honraria. Mas, em 1859, ao participar pela última vez do Salão oficial, as telas que enviou foram injustamente atacadas pela crítica. Desgostoso, Delacroix decidiu não mais participar da mostra, que, no passado, fora o grande palco para tantas produções suas.
Por essa época, o pintor, então com 61 anos, morava num apartamento em Paris, apesar de ainda passar boa parte do tempo no campo. Nos raros períodos em que gozou de boa saúde, o artista completou os painéis da Igreja de Saint-Sulpice. Mas poucos foram os que tomaram conhecimento. Retirou-se amargo e desapontado para Champrosay, quase aniquilado pela indiferença. Sua existência, porém, ainda se prolongaria até os 65 anos de idade. A morte chegou em 13 de agosto de 1863, no apartamento de Paris, após uma violenta crise da crônica laringite.
Cor Intensa, Audácia e Dramaticidade
Um autêntico romântico, Delacroix tinha preferência por cenas de violência e paixão. Tratava os temas com surpreendente audácia, tornando-os eletrizantes pelo brilho e contraste de suas cores.
Em seu testamento, Delacroix deixou alguns quadros para amigos e parentes, mas pediu que maior parte de sua obra fosse vendida. Quando testamenteiros chegaram, fizeram uma sureendente descoberta: o estúdio do artista continha nada menos que 9.140 itens diferentes. Havia 853 pinturas, 1.525 pastéis, 6.629 desenhos, e uma infinidade de estampas, litogravuras e cadernos de esboços, demonstrando não apenas a extraordinária energia produtiva de Delacroix, como também o quanto o desenho era fundamental em seu método de trabalho. Para cada um de seus quadros monumentais havia centenas de estudos preliminares.
Delacroix aprendeu a trabalhar dessa maneira na Escola de Belas-Artes, onde fez seu aprendizado de acordo com a metodologia acadêmica. Em parte, esses métodos consistiam no estudo da arte greco-romana e da pintura dos grandes mestres, sobretudo Michelangelo e Rafael, bem como Poussin e Rubens. Esse conhecimento lhe permitia usufruir das conquistas do passado e, ao mesmo tempo, propor novas descobertas. Delacroix foi treinado para ser basicamente um pintor de estúdio. Podia observar o que via no campo ou nas ruas das cidades, mas, para ele, o ato de pintar se concretizava necessariamente a partir da imaginação. Por isso, nunca foi em essência um paisagista — embora tenha deixado nesse gênero alguns poucos exemplos notáveis.
METICULOSA ELABORAÇÃO
Para criar suas telas, Delacroix primeiramente fazia vários esboços, tentando materializar a composição, tal como ela fora concebida em sua imaginação. Por vezes, variava o ponto de vista ou a posição de determinadas figuras. Os esboços eram desenhados com impressionante rapidez, a ponto de Delacroix escrever no fim da vida que "se você não é hábil o suficiente para desenhar um homem caindo de uma janela no espaço de tempo em que o corpo leva para chegar do quinto pavimento até o chão, então você nunca será capaz de produzir uma obra de valor". Quando chegava a um resultado satisfatório, contratava modelos profissionais e os dispunha de acordo com as poses de suas personagens. Concentrava-se, a seguir, em detalhes. Ao final, tudo parecia surgir da mais completa espontaneidade.
Inclusive pela técnica das pinceladas, que, no decorrer da carreira do pintor, foram se tornando mais livres e evidentes.
Na medida em que a cor adquiriu importância primordial na arte de Delacroix, o artista passou a usar a técnica do pastel em alguns desenhos mais complexos. Os quadros a óleo seguiam um esboço prévio de cores e tons para a composição inteira e estudos mais acabados de algumas figuras em particular.
Se a elaborada construção de suas obras reflete um aprendizado acadêmico, Delacroix rejeitou completamente o estilo neoclássico defendido por seus contemporâneos menos ousados. Apesar de resistir aos rótulos dos críticos, era um romântico por excelência. Procurava a verdade da natureza no jogo livre de sua imaginação e nas mais profundas emoções. Acreditava que a pintura deveria expressar não apenas a nobreza, o heroísmo e a tragédia da mitologia clássica, mas também medo, melancolia, paixão e erotismo — enfim, todas as experiências emocionais intensas.
Assim, Delacroix voltou-se para os novos temas propostos pelo movimento romântico. Um de seus aspectos era o orientalismo, e o artista desenhou armas e trajes orientais da coleção particular de um amigo. Música e poesia também o inspiravam. A essa época, escrevia em seu diário: "Para incendiar a imaginação basta lembrar-se de algumas passagens de Byron". O zoológico era também uma fonte de idéias e, com freqüência, Delacroix o visitava para estudar os animais selvagens. Em resumo, sempre que o artista necessitava de um estímulo emocional para sua inspiração, punha-se em campo para buscá-lo.
O PODER DA COR
A cor era sua maior obsessão. Para Delacroix a cor propiciava algo muito maior do que o mero aperfeiçoamento do desenho, conforme se ensinava nas academias. Para ele, era o meio pelo qual o artista poderia expressar toda a riqueza de seu imaginário. Descobriu o poder das relações cromáticas quando pintava A Execução do Doge Marino Faliero. Frustrado porque os mantos dourados não brilhavam intensamente, decidiu ir até o Louvre para analisar as obras de Rubens. Ao entrar no tílburi, porém, viu um raio de sol iluminando as pedras da rua e lançando reflexos violeta. O amarelo do tílburi começou a brilhar com mais intensidade, e o pintor percebeu que, ao se justapor cores complementares, intensificava-se a riqueza do colorido.
Aos poucos, Delacroix consegue como que extrapolar os matizes de sua paleta, enfatizando os reflexos verdes e violeta nas sombras, para ressaltar a luminosidade dos tons da pele. Sua experiência com a luminosidade e o colorido do Marrocos o encoraja nessa direção. Quase na mesma época descobriu os textos teóricos do químico Eugène Chevreul, que observou que, na verdade, as cores primárias criam no olho humano a ilusão de estarem envoltas por sua complementar — o amarelo pelo violeta, o azul pelo laranja, o vermelho pelo verde.
Os escritos de Delacroix mostram-no como um artista interessado na teoria da arte, buscando soluções intelectuais que traduzissem sua própria visão artística. E a postura de Delacroix pode ser resumida nesta frase sua: "Deve-se ter audácia ao extremo; sem ousadia, sem extrema ousadia, não há beleza".