Polêmico, irrequieto, perturbador, diferente... São apenas alguns qualificativos que se pode atribuir a Jackson Pollock, expressionista abstrato americano, cuja vida tumultuada acabou marcando profundamente a história da arte moderna. Entre a pintura e o jazz, viveu emoções que o levaram da depressão ao êxtase e terminaram por transformá-lo em um alcoólatra. Aos 44 anos, quando voltava dirigindo embriagado de uma festa, morreu em um acidente de carro. Ele simplesmente chocou-se com uma árvore. Há quem sugira que, propositalmente, provocou o acidente. Nunca saberemos com certeza.
De uma família com vários artistas, Pollock diferenciou-se imediatamente pelos seus métodos. Suas telas, imensas, eram pintadas antes de serem estiradas. Isso permitia que o artista praticamente caminhasse sobre a tela, fazendo parte dela durante o processo de pintar. Também essa pintura era diferente. Deixava a tinta escorrer de latas furadas ou as espalhava-as de outra forma, usando pedaços de madeira, ferramentas, escovas de dente, espátulas e outros processos, abandonando definitivamente o pincel. O resultado é marcante. Ver é deliciar-se.
O fato de permitir que a tinta manchasse a tela à partir de latas furadas não faz com que a pintura de Pollock seja fruto da casualidade. "Quero expressar meus sentimentos mais do que ilustrá-los... Eu posso controlar o fluir da tinta; não há acaso, assim como não há começo nem fim". Depois de enfrentar a recessão na década de 30, o pintor viu os Estados Unidos serem invadidos por artistas europeus fugindo da guerra. Encontrou muitas dificuldades para vender os seus quadros nesse período tumultuado e acabou criando uma dependência do álcool que terminaria por matá-lo tempos depois. Mesmo em dificuldade, nunca deixou de ser um inovador: misturava areia e vidro moído na tinta para obter efeitos especiais.
Pollock é considerado um dos mais importantes personagens da pintura pós-guerra e sua morte trágica e imprevista o tornou famoso em todo o mundo. Já o era, antes de morrer, apesar de nunca ter saído dos Estados Unidos. Adolescente com problemas escolares, desde cedo se envolveu com o álcool e jamais conseguiu libertar-se dele. Fez tratamento psiquiátrico algumas vezes, mas sempre retornava ao vício. Na década de 40 conheceu Lee Krasner, pintora abstrata com quem se casou e que o apresentou a pessoas importantes no mundo da arte. Lee abandonou praticamente sua carreira para dedicar-se a Pollock, ajudando-o na luta contra o álcool. Por causa dele foram morar em um local afastado, procurando criar melhores condições nessa luta. Apesar de todo o esforço, o artista sempre retornava a bebida. A separação acabou acontecendo e foi mais um motivo depressivo para o artista.
As influências que agiram sobre Pollock são muitas e variadas. Sobre ele já se disse, antes ainda do apogeu de sua carreira, que "o pintor mais poderoso da América contemporânea e o único que promete ser um dos grandes é gótico, mórbido e extremo discípulo do cubismo de Picasso e do pós-cubismo de Miró, com toques de Kandinsky e de inspiração surrealista. Chama-se Jackson Pollock". Faltou nessa frase citar a influência dos muralistas mexicanos e dos conceitos psiquiátricos que aprendeu durante os tratamentos de desintoxicação, os quais, declaradamente, reconhece como fatores que mudaram o seu pensamento.
Lee Krasner foi quem realmente impulsionou a carreira de Pollock, tanto pelo apoio emocional, como pelas apresentações no mundo da arte. Graças a ela, o artista conseguiu rendimentos para dedicar-se inteiramente a pintura. Em 1949, a revista Life, com mais de 5.000.000 de exemplares de circulação, o colocou como uma personalidade em destaque. Subitamente, a agenda tornou-se cheia e os problemas financeiros desapareceram. Tudo poderia parecer bem, mas Pollock jamais aceitou a separação da ex-mulher. Tinha uma jovem amante muito bonita, mas vivia depressivamente, até a morte súbita no trágico acidente.
O método do artista de pintar caminhando ao redor da tela e mesmo sobre ela tornou-se conhecido como "Action Paiting". Os seus gestos dramáticos no ato de usar as tintas, o abandono tradicional de cavaletes, foram atitudes revolucionárias. O seu nome é um marco na pintura pós-guerra não só americana, mas em todo o mundo. Sem dúvida alguma, ainda é um dos pintores americanos mais influentes dos tempos atuais. As suas pinturas perdem força quando olhadas através de fotografias, o que acontece muito freqüentemente com alguns pintores. Às vezes acontece exatamente o contrário, mas não é o caso. O primeiro vislumbre da fama para o artista veio através de fotografias dele trabalhando, da forma enérgica dos seus gestos no ato de pintar. Há uma certa dramaticidade nessas fotos que realmente impressiona.
"Quando estou a pintar não tenho consciência do que faço. Só depois de uma espécie de 'período de familiarização' é que vejo o que estive a fazer". Talvez tenha sido assim também com a vida real, com os seus movimentos do dia-a-dia. O gênio nos enche de admiração e nos deixa um grande legado. O homem nos passa a impressão de que, fora a arte, a vida foi uma grande tentativa que não deu certo. Embora não possamos julgar se isso de fato tem alguma verdade, é essa a emoção que nos passa.