"Nós precisamos da arte para não morrer de verdade"
Nietzsche
A independência da obra de arte com relação ao repertório de um público, principalmente a partir da modernidade, criou uma expectativa em torno de sua leitura. Hoje em dia, o artista é solicitado a prestar esclarecimentos sobre o significado de sua obra, como se fosse possível alguma tradução verbal. Críticos e especialistas se apropriam de uma bateria de teorias para formular regras e critérios que tornem possível decifrar o jogo de signos utilizado pelo artista, criando hipóteses de leitura para se aproximar da obra. Enfim, criou-se um conjunto de discursos tautológicos que acompanha os objetos de arte, para endereçá-los aos espectadores, aos colecionadores, ao mercado e até mesmo às instituições culturais, disfarçando o mito da incompreensibilidade.
O que significa o trabalho de um artista, senão o próprio trabalho? As prováveis dificuldades de se entender as experiências não-verbais mostram que não dominamos a linguagem; ao contrário, somos dominados por um sistema de signos. Os limites da compreensão da arte são determinados pela linguagem com a qual o espectador/consumidor/ leitor tem acesso a ela.
A apreensão da arte é múltipla. As várias formas e parâmetros de olhar ou de relacionamento com o trabalho de arte são formas de apropriação que não esgotam os seus significados imagináveis. Existem códigos que fazem parte do repertório do artista e códigos que pertencem ao repertório do espectador que podem ser incorporados à obra, no momento de sua leitura. Mas o fundamental é a compreensão de sua incompreensibilidade (Adorno). O trabalho do olhar é um investimento de significados ou pensamentos visuais que a obra de arte é capaz de suportar.
A arte é objeto de estudo da teoria da arte, da semiologia, da psicanálise, a política etc., portanto, aberta a várias leituras, mas é irredutível a essas formas de racionalidade. Existem modelos de leitura sujeitos à informação e à pretensão do espectador ou do crítico. Em última instância, os repertórios direcionam e administram leituras ambíguas.
A arte produz efeitos imprevisíveis e é preciso entendê-la sem descrevê-la.