Almandrade

Diante da escultura de José Resende, experimentamos um estado de dúvida e incerteza. Construídas de materiais diversos alguns menos nobres, é um exemplo de um trabalho de arte contemporâneo realizado com rigor e fundamentação para interrogar e enfrentar o fazer e a historia da escultura, mais ainda, o que é o objeto de arte nos dias de hoje. Quem as olha inventa seus problemas e soluções que garantem suas condições de obras de arte. Afinal de contas, essas coisas estão colocadas num território culturalmente sinalizado pela ideologia da arte.

O artista trabalha ou trabalhou com os mais inusitados materiais, sem se perder no manuseio de cada um deles, tais como: chapa de ferro, feltro, chumbo, vidro, parafina, couro, plástico, pedra, sem dispensar o oficio do artesão que conhece a propriedade e a possibilidade de cada um. Á primeira vista, tudo parece precário e instável, um lugar de frágil sustentação, mas por trás, existe uma razão do inesperado.

Observamos em certas peças uma organização de coisas diversas, determinada por uma lei que desconhecemos. Como uma prática de um tratado sobre as diferenças. Em outras, procedimentos de propor um equilíbrio delicado com soluções simples e discretas. As tensões provocadas pela associação de diferentes matérias e o equilíbrio instável físico e visual põem em ação a sensibilidade.

Espetáculo de um raciocínio lúdico? São máquinas que não produzem, riem de suas próprias inutilidades, mas um riso silencioso e sutil que lembra a Monalisa do Da Vinci. Não dizem nada ao simples trabalho da retina, desorientam momentaneamente o espectador e insinuam uma estranha ciência que cuida de fazer com o banal uma estrutura imprevisível capaz de acionar o afeto e o pensamento. Apresentam-se como enigmas, ou desenhos que se acomodam no espaço, objetos a ser concluídos, para ser decifrados pelo olhar.

Algumas parecem até transitórias, surgem como uma proposição que poderão desmoronar, assim que forem decodificadas. Outras apresentam operações que parecem submetidas a cálculos construtivos, catalisadores dos contrários e responsáveis pela sustentação da unidade estrutural, sem esconder os atritos. Com gestos aparentemente espontâneos e construções decisivas, o artista extrai dos materiais que utiliza suas qualidades expressivas, o frágil e o durável, o equilíbrio e o movimento. Um embate entre sujeito e matéria. Explorar e indagar as possibilidades da escultura é o tema do trabalho de Resende.