“Aquele que lê minhas palavras as está inventando”
J. L. Borges
Ainda bem que o que se diz sobre uma obra de arte é fantasia, só faz suscitar algumas dúvidas que servem apenas como material de reflexão. Pintar, por exemplo, é um ato difícil, que exige do artista método e sentimento, gestos violentos, lúdicos, suaves, contraditórios, inocentes e paradoxais... Tudo para ocupar um espaço branco cheio de história, campo de pouso do enigma do belo. É o drama da pintura, ou melhor, da arte.
A obra de arte é, muitas vezes, uma superfície para o olhar pretensioso do observador arremessar inquietações e localizar fantasmas. Se quem olha inventa realidades, quem escreve imagina no texto verdades suspeitas, que apenas aproximam ou interrogam o trabalho do outro. Recomenda-se ficar em silêncio, para se escutar o diálogo dos personagens que desenham a paisagem do objeto de arte. Eles fazem parte da memória da arte. Escutar o som que vem das cores, das formas e das linhas e os acordes de um movimento brusco de um pincel que deixa rastros, que marcam a certeza e a incerteza da mão.
Estamos sempre falando para inventar um discurso sobre o trabalho do outro, mas ele está sempre do outro lado do texto. Diz Adorno: “As obras falam como as fadas nos contos”. Quando pensamos que estamos comentando uma obra de arte, ela nem aparece na superfície do texto.