A vontade de pintar não se esgota, nem mesmo diante de um mundo problemático da arte, onde imaginamos que tudo já foi feito.
Se não há mais nada de novo a acrescentar; uma condição domina o fazer do artista: refletir sobre o que aparentemente está encerrado e reensaiar o teatro da pintura. Uma tarefa difícil que exige perícia técnica, referências históricas, experiência, método de trabalho. Qualidades nas quais se apóiam as paisagens de Zivé Giudice. Por isso mesmo elas nos provocam, não sabemos se elas representam a angústia dos centros urbanos. Pouco importa. O que está em destaque atraindo o olhar é a vibração cromática, a materialidade e a atualidade de um velho suporte, que muitas vezes surpreende, pela precisão conceitual, as novas tecnologias utilizadas pelos artistas contemporâneos.
Paisagens densas de cidades desconhecidas, cheias de certezas e incertezas, construídas de gestos bruscos, traços selvagens, manchas e criaturas que flutuam no plano da tela, contrastando com a turbulência do fundo. Um fundo arqueológico, habitado por muitas memórias. Desenho e pintura se misturam e se completam. Uma organização imprevisível fazendo da paisagem o lugar enigmático da pintura, território de muitas curiosidades e muitas histórias. Como se o expressionismo fosse o destino de uma pintura que flerta com os dramas da existência, Zivé exalta a espontaneidade, a experimentação e o desejo de pintar, sem romper os limites da razão pictórica.
A pintura reconstruindo ou restaurando a própria pintura, e o prazer de manusear com liberdade e disciplina os materiais que possibilitam a elaboração de uma paisagem, onde a arte deposita suas desconfianças e suas dúvidas que fazem brilhar a cena do pensamento. As referências figurativas não são representações do que entendemos como real, são signos, personagens deslocadas ou fantasmas que sobrevivem no inconsciente do artista, ou melhor, da pintura. A ação do artista se impõe transformando melancolia, alegria e humor em ingredientes do penoso ofício de pintor. Do exercício da mão sábia renasce mais uma vez a possibilidade da pintura: a luz, a sombra, a textura e a cor. A pintura sem necessidade de definições.