Fonte: Revista Continente Multicultural

 Publicitário, o sonho de Andy Warhol era ser reconhecido como artista, tornar-se uma estrela e ficar rico, muito rico.

Na biografia que Klaus Honnef escreveu sobre Andy Warhol, o subtítulo é esclarecedor: A comercialização da arte. De fato, é impossível dissociar o papa da arte pop de uma visão mercenária. Frases suas, que podem ser interpretadas como simples boutades, muito provavelmente têm um cruel fundo de verdade: “Pedi a dez ou quinze pessoas que me dessem idéias, até que uma amiga me fez a pergunta certa: Qual é a coisa de que você gosta mais? Foi assim que comecei a pintar dinheiro”.

 Filho de imigrantes tchecos, Warhol começou como publicitário, mas desde o início queria se afirmar como artista. Para isso, armou toda uma estratégia: reproduzir botas (fetiches) de Elvis Presley, Mae West, James Dean e Judy Garland, entre outros, feitas na técnica de colagens com folhas de ouro, linhas impressas artesanalmente e pequenos adereços, fascinado que era pelo mundo das estrelas da mass media.

 Seu sucesso começou a partir dos quadros de maior impacto; como, por exemplo, logo em seguida à morte misteriosa de Marilyn Monroe reproduziu seu rosto em serigrafias coloridas. Da mesma forma, quando o presidente John Kennedy foi assassinado, dedicou-se a explorar o rosto da viúva Jackie em expressões de dor. Isto é, uma série de oportunismos que não explicam toda sua glória — não se pode negar seu talento, nem sua importância para a história da arte —, mas que são demonstrativos de toda uma estratégia de ascensão.

 Henry Geldzahler, seu amigo de longa data, disse: “Ele nunca perdeu de vista seu verdadeiro objetivo: ser um artista e, embora nunca o tenha dito, uma estrela”. Atento à decadência do Expressionismo Abstrato, que tinha imperado até então nas artes plásticas norte-americanas, Warhol começou a perceber o fascínio que os objetos de consumo poderiam exercer e o surgimento, no início dos anos 60, da cultura de massa.

 Conta David Bourdon, que com ele convivia na época, que “a sua transformação num homem da Pop Art foi pensada e bem ponderada. Transformou-se numa espécie de teeny-popper, aparentemente ingênuo, a mastigar chiclete, voltado para as formas mais triviais da cultura pop. Quando esperava a visita de alguma personalidade importante do meio artístico, defensores da Arte Nova, como Ivan Karp ou Jenry Geldzahler, substituía o disco de música clássica por um de música pop”.

 Sua grande virada se deu no início dos anos 60, quando percebeu que os objetos, com que ganhava dinheiro fazendo publicidade, render-lhe-iam muito mais se os erguesse à categoria de objetos artísticos. Os gritantes símbolos da publicidade de massa passaram a ser seus temas, das histórias em quadrinhos aos produtos de supermercado, passando pelas fotos dos jornais.

 No auge da fama e da riqueza, vivia cercado de gente que praticamente produzia tudo para ele. O mestre apenas dava o aval ou o acerto final para que o produto, ou seja, a obra de arte, pudesse ganhar o mundo com a sua assinatura, ou seja, grife. Sua própria persona era um produto: de aparência tímida e aérea, mas muito seguro e atento a tudo, todo vestido em couro preto, com uma peruca cor de prata, avesso a dar entrevistas, mas fértil em frases de efeito, tinha chegado lá: mais que um artista, tornara-se um superstar.

 Segundo David McCarthy, autor do livro Pop Art, no início dos anos 60, em pleno século 20, o furor dos expressionistas abstratos que dominara a cena do decênio anterior, extingue-se de repente. Em vez de grandes telas cobertas raivosamente de tinta, surgem imagens retiradas do mundo “popular”, desde a banda desenhada até os gêneros alimentícios vendidos nos supermercados. Passa-se, portanto, da exibição da complexa interioridade do artista para a reprodução do quotidiano óbvio, não reinterpretado, não filtrado, apenas confirmado na repetição mais ou menos fiel.

 Ainda antes dessa tendência se afirmar nos EUA, já os artistas ingleses tinham se inspirado na sociedade de consumo, nos seus símbolos e ritos quotidianos, e , em 1952, forma-se, no seio do Institute of Contemporary Art de Londres, o Independent Group, constituído por artistas, arquitetos e críticos. Em 1956, Richard Hamilton (1922) figura, ao lado de Peter Blake (1932), David Hockney (1937) e Allen Jones (1937), entre os principais representantes da pop art inglesa.

 Nos EUA, Andy Warhol (1928-1987) repete a imagem de um produto sempre presente na despensa de qualquer família americana média, as garrafas de coca-cola, as latas de sopas Campbell, ou alinha caixas de detergente Brillo, como se estivessem em prateleiras de supermercado, sem revelar qualquer ironia, mas refletindo apenas os gostos e os hábitos alimentares predominantes na sociedade americana do seu tempo.

Apesar das diferentes origens, ao longo de toda uma década, a Pop foi um dos movimentos centrais da arte britânica e americana, impondo várias personalidades como artistas de primeira categoria, afetando diretamente, em todo o mundo, o curso de arte subseqüente e reconfigurando o nosso entendimento da cultura do século 20. A Pop Art evitou deliberadamente as severas críticas de algumas manifestações do modernismo, em prol de uma arte que era tanto visual como verbal, figurativa e abstrata, criação e apropriação, arte manual e produção em massa, irônica e sincera, complexa e dinâmica como o momento, e como os artistas que lhe deram vida.