Além de ter a maior coleção de obras de Frans Post, o Instituto Ricardo Brennand é o único lugar do mundo que possui obras dos quatro períodos do artista holandês
Enquanto as expedições anteriores traziam soldados, comerciantes e padres para o Brasil, o Conde João Maurício de Nassau inovou e trouxe em sua comitiva uma equipe de cientistas e artistas. Um deles, Frans Post, marcou seu nome para a posteridade por ter sido o primeiro pintor a retratar o Novo Mundo para os europeus.
Quinze quadros do artista, mapas e edições originais e coloridas dos livros de Piso e Georg Marcgraf e de Barlaeus sobre o período da ocupação holandesa no Brasil fazem parte da exposição (já aberta ao público) Frans Post e o Brasil Holandês na Coleção do Instituto Ricardo Brennand. Como o nome da mostra já indica, o acervo que o público poderá apreciar pertence à coleção particular do empresário Ricardo Brennand.
Post é o autor de 27 das 56 gravuras do livro de Gaspar Barlaeus, Rerum Per Octenium In Brasilia, que tem mapas e plantas de sítios e fortificações, cenas da frota holandesa, combates navais, paisagens e vistas marinhas. “O Instituto tem um exemplar colorido da primeira edição da publicação, que, junto com a obra de Piso e Marcgraf, são considerados os livros mais importantes do século XVII”, destaca a curadora da exposição Beatriz Corrêa do Lago.
A intenção de Maurício de Nassau era divulgar o Novo Mundo para a Europa e, para isso, reuniu todo o material necessário e contratou os serviços de Barlaeus — que nunca esteve no Brasil — ao retornar à Holanda. A obra foi publicada em latim, em Amsterdã (1647), traduzida para o alemão (1659), o holandês (1923) e o português (1940), sob o título História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. “Algumas gravuras presentes no livro poderão ser vistas, ampliadas”, adianta Beatriz.
Post — Muitos estudiosos afirmam que Frans Post seria apenas mais um paisagista se não tivesse vindo para o Brasil e se dedicado às paisagens tropicais, com a qual ficaria identificado até o fim da vida. Sem competidores na Europa, o artista é considerado o grande documentarista do Ciclo do Açúcar, tendo produzido mais de cem quadros sobre o Brasil depois de deixá-lo, baseado em desenhos feitos in loco.
Post nasceu na Holanda em 1612, vindo para o Brasil aos 25 anos a convite do Conde Maurício de Nassau. Dos dezoito quadros que pintou durante os sete anos em que permaneceu em Pernambuco (1637-1644), apenas sete sobreviveram aos dias atuais. Quatro estão no Museu do Louvre (França), um na Casa de Maurício de Nassau (Holanda) e dois em coleções particulares, sendo uma delas a de Ricardo Brennand. “A tela está voltando para casa. O mais interessante é que cada um dos quadros pintados no Brasil retrata uma região, um local importante. A do Instituto mostra justamente uma paisagem local: os bairros de São José e Santo Antônio, que ocupam agora o antigo território da Ilha de Antônio Vaz”, ressalta a curadora da exposição.
De acordo com os estudos feitos por Beatriz Corrêa do Lago e o marido Pedro Corrêa do Lago, pesquisador da obra do artista, o trabalho de Post pode ser dividido em quatro fases: aquela em que viveu no Brasil, os anos imediatamente posteriores à sua volta para a Holanda (1644-1656), o período que vai de 1656 a 1667 e o que compreende os últimos anos de vida, quando as mãos não estavam tão firmes e os quadros têm menos qualidade.
“O Instituto Ricardo Brennand é o único lugar do mundo que possui obras dos quatro períodos, além de ter a maior coleção”, conta Beatriz. “Pernambuco ainda dispõe de duas outras obras de Frans Post, que pertencem ao acervo do Museu do Estado”, lembra a museóloga do Instituto, Regina Batista e Silva.
Mapas — Na exposição, poderão ser vistos ainda onze mapas, inclusive do início da ocupação holandesa (1630-1654). No ano seguinte, a vitória de Hendrick Loncq foi eternizada por Claes Visscher. “Este mapa inaugura, com o anterior, a representação impressa de Pernambuco na cartografia holandesa. O cerco de Olinda e a subseqüente conquista da região por Loncq e suas tropas são o pretexto para este mapa comemorativo, realizado por um dos maiores cartógrafos do período na Holanda”, explica a curadora.
A museóloga do Instituto ressalta a importância das obras, pois mostram as primeiras idéias de limite do Brasil, no século XVII. “O território ainda era mal explorado e as fronteiras ainda não estavam bem definidas”, completa Regina Batista. A museóloga chama a atenção também para as tapeçarias e as moedas de ouro e prata cunhadas em Pernambuco no período da ocupação holandesa, por determinação da Companhia das Índias Ocidentais.