Morreu na noite de quarta, aos 84 anos, o pintor e gravurista Mário Gruber
Nos anos 70, o crítico Mario Schenberg afirmou que o artista Mário Gruber era um dos criadores mais singulares do movimento paulistano e foi no campo da gravura que esse criador se destacou, apesar de também se dedicar, durante sua trajetória, à produção pictórica, ao muralismo e à escultura. "Para mim, a gravura em metal em preto-e-branco é música de câmara, enquanto a pintura tem o som da orquestra sinfônica", afirmou o artista em 1992. Gruber morreu na madrugada de anteontem, aos 84 anos, em decorrência de um câncer. Estava internado em uma clínica geriátrica em Cotia e seu corpo foi cremado.
Pai do pintor Gregório Gruber, Mário Gruber nasceu em 31 de maio de 1927 em Santos. Autodidata em pintura, quando jovem, em 1946, mudou-se para São Paulo. Há registros de que, na capital paulistana, começou a pintar em praça pública até conhecer outros artistas, como Bonadei e Zanini - tanto que, em 47, participou da mostra Grupo dos 19, na Galeria Prestes Maia, exposição que trouxe à tona obras de então jovens criadores. Gruber começou ainda, no ano seguinte, a trabalhar com Di Cavalcanti e nesse período iniciou também suas experimentações gráficas. "Fui um dos primeiros gravadores em metal de São Paulo, revejo minhas primeiras placas de 1946-47", afirmou.
Até há poucos anos, Mário Gruber produzia obras em seu ateliê em São Paulo, mas uma de suas últimas exposições de destaque ocorreu em 2006, quando o Memorial da América Latina exibiu a retrospectiva Mário Gruber e a Metafísica dos Planos, com suas obras de desde a década de 1940. Durante sua trajetória, dedicou-se ao figurativismo, mas resumido "na atração dicotômica pelo máximo realismo e pelas formas de transcendência onírica do real", como analisou o crítico Roberto Pontual no livro Arte/ Brasil/ Hoje: 50 Anos Depois (1973). No campo da abstração, pode-se eleger uma pura experimentação gráfica realizada na década de 1960: arremessou um pião com várias pontas sobre uma chapa de cobre e depois imprimiu em papel os vestígios daqueles traços feitos ao acaso.
No fim dos anos 40, experiências e estudos com Di Cavalcanti e Poty; o curso de gravura em metal, em 1949, com Édouard Goerg na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Paris; o trabalho com Portinari, também na capital francesa; e o contato com o muralista mexicano Diego Rivera no Chile foram chaves para sua formação. De volta ao Brasil, nos anos 50, fundou o Clube de Gravura de Santos e tornou-se membro da Comissão de Orientação Artística do Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde também lecionou técnicas gráficas.
"Fiz poucas gravuras em cor", disse o artista. Como analisaram Leon Kossovitch e Mayra Laudanna em Gravura no Século 20 (Cosac Naify/Itaú Cultural), é a cidade que figura na maioria das obras gráficas de Mário Gruber, feitas no campo de uma "figuratividade ampla" e com domínio da técnica. Já na pintura, a tradição absorvida durante sua residência na Europa unida a uma "tendência para um realismo fantástico", afirmou Schenberg, definiram seu estilo. Paisagens e a série dos Fantasiados são destaques em sua produção pictórica.
Mas é importante também destacar sua produção de painéis públicos, como o do Instituto do Matte (projeto do arquiteto Vilanova Artigas), de 1957; o que realizou para o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, depois transferido para o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos; o mural Como Sempre foi, o Amanhã está em Nossas Mãos, na estação de metrô Sé, na capital paulista; ou a obra para a biblioteca do Memorial da América Latina. Mais ainda, o artista é tema do curta A Arte Fantástica de Mário Gruber (1982), de Nelson Pereira dos Santos, e de documentário de 1967 de Rubem Biáfora, que participou do Festival de Veneza daquele ano.