O artista visual nunca foi bom em discussão de questões comerciais, principalmente quando o negócio envolve suas obras. Também não é lá muito hábil no tratamento de questões burocráticas, ainda mais se essas questões estiverem perdidas na brutal e excessiva burocracia da maioria dos órgãos públicos. Não que o artista não tenha paciência, na verdade, essa é uma das características que lhe faz artista, o que lhe falta é a habilidade em lidar com questões demasiadamente reais.
Para o artista é mais fácil captar as expressões de paisagem do rosto de um atendente ou a irredutibilidade impressa nas feições de um agente alfandegário, que encontrar meios ou argumentos que convençam esses e outros burocratas de minimizar as cruéis e muitas vezes descabidas exigências escondidas nos emaranhados de incompreensíveis leis, regulamentos e regimentos.
Evidentemente falamos da maioria, exceções sempre existirão, mas o artista acima de tudo é um sonhador, o sonho alimenta sua inspiração. Pés no chão para que? Se existe um mundo bem melhor nas alturas.
É exatamente nisso que mora o perigo. Nos dias atuais onde a comunicação acontece mais rapidamente que a capacidade de decifrá-la, o artista é presa fácil dos vendedores de sonhos, cuja promessa é de colocar suas obras em evidência mediante módicos dispêndios, preferencialmente, em Euros ou em dólares.
Os vendedores de sonhos fazem promessas de mega exposições ou feiras, no exterior, com ávidos compradores dispostos arrematar suas obras. Obras que nunca foram vistas pelos vendedores de sonhos. Isso é compreensível, mas inaceitável, porque na verdade, as obras, sentido maior da existência do artista, se tornam mero detalhe, neste mundo, unicamente comercial.
Qual artista não recebeu proposta do tipo: Anuncie sua obra na publicação tal que você será conhecido em todas as galerias do Brasil e do mundo. Ou então: Participe da exposição em tal lugar, suas obras serão apreciadas por vários críticos e compradores. Ou ainda: São últimas vagas para que você exponha na importante galeria tal e tal. Quais desses vendedores de sonhos estão realmente preocupados com a obra e com o artista? Você saberia responder?
Existem exceções? Sim, mas afirmo convicto que são poucas. A maioria dessas ofertas ocasionará prejuízos ao artista e, mesmo quando o evento tenha sucesso, é comum ter obras devolvidas (quando são devolvidas) com danos, muitas vezes irreparáveis.
Os vendedores de sonhos descobriram um filão fácil, onde a vítima, na realidade é um frágil comprador de sonhos, muitos deles, cansados de tentar trilhar caminhos na tentativa de deixar suas obras lembradas pela história da arte, mesmo que essa história nunca seja contada.