A Bienal de São Paulo chega aos 60 anos em uma situação ambivalente.
Se, por um lado, é a mais importante instituição das artes plásticas no país, por outro, ainda não possui um modelo de gestão, financiamento e diálogo com a cena local à altura de seu papel.
A relevância da Bienal para a cidade e o país é de grandes proporções. Ela formou e informou grande parte dos curadores e artistas do país.
Foi palco para o debate sobre importantes temas da sociedade, como quando artistas pediram a liberação de presos políticos ao presidente Castelo Branco, na abertura da 8ª Bienal, em 1965.
E, claro, teve relevante função no debate artístico, como ao apontar a mesmice na pintura, na 18ª Bienal, em 1985.
O problema de gestão é, no entanto, um vício de origem: criada pelo mecenas Ciccillo Matarazzo, a Bienal acostumou-se a sobreviver com base em iniciativas pessoais e centralizadas.
Por mais que seus presidentes declarassem seu amor à arte, a projeção pública sempre foi o fator substantivo do cargo.
Sua mais recente crise foi um exemplo dessa característica. O banqueiro Edemar Cid Ferreira se projetou com o engrandecimento da instituição e, quando faliu, levou junto a Bienal, que só não fechou as portas porque um grupo de empresários e intelectuais, liderados por Heitor Martins, tirou a fundação da beira do abismo.
Se a catástrofe foi evitada, a estrutura que a gerou ainda não foi transformada de fato. O conselho da Bienal discute um novo estatuto, mas não consegue uma modernização efetiva, como acabar com os cargos de conselheiros vitalícios -um modelo de apadrinhamento criado por Matarazzo.
Tampouco se cria uma estrutura de seleção isenta do curador da Bienal, feita por meio de um conselho de especialistas, indicados pelo presidente, ao contrário de outras mostras importantes no mesmo formato, como a Documenta de Kassel.
A própria comemoração dos 60 anos, aliás, aponta para o modelo centralizador e personalista da instituição na tomada de decisões.
A escolha por apresentar uma coleção norueguesa é um tanto estranha e está drenando recursos que deveriam servir para a realização da 30ª Bienal, no ano que vem.
A iniciativa de Martins de trazer ao pavilhão projetado por Oscar Niemeyer artistas que nunca tomaram parte da história da Bienal, como Damien Hirst, Cindy Sherman ou Richard Prince, pode até compensar a ausência desses nomes estelares ao longo da história do evento.
A exposição, porém, tira o caráter mais alternativo pelo qual a mostra de São Paulo se consagrou.
Não há dúvida de que a gestão de Martins e sua diretoria representa um avanço na história da Bienal ao trazer mais transparência e competência à instituição.
Ainda é preciso, no entanto, promover um diálogo mais estreito com a cena nacional para garantir tanto recursos como o compromisso com quem reflete sobre artes visuais no Brasil.