As décadas de 1960 e 70 foram, no Brasil, marcadas pela rica produção de vários artistas que, no embalo da importância histórica da comunicação conceitual, criaram o que se convencionou chamar de novas figurações dentro do amplo universo da arte desmaterializada. Apareceram os hiper-realistas, os surrealistas fantásticos e, também, os adeptos da pop-art, entre outras manifestações e tendências de então.
Muitas são as diferenças entre a criação de cada um dos artistas brasileiros que praticaram a pop-art àquela época. Entretanto, um aspecto constitui base comum a todos – é clara a influência desse movimento nascido inglês, recriado e realmente difundido a partir de Nova York, e que soube impor a sua marca de pioneirismo.
Por outro lado, todas as obras do período da pop-art feitas aqui apresentam típica brasilidade na sua forma, estilo, linguagem e, em especial, temática, com a inclusão de elementos tropicalistas nas telas: frutas, animais, rostos populares, legítimos signos de imediata identificação com o “verderelo” de nossa terra.
Houve, em determinados artistas, também a consciente opção por um discurso político na mensagem contida em suas obras. O Golpe Militar de 1964, e suas lamentáveis conseqüências que vitimaram o País com a instauração de uma violenta ditadura, exigiu de muitos criadores a necessidade de combater a opressão, fugir à censura, clamar por liberdade.
Outros valeram-se dos quadrinhos, do humor ou dos recursos tecnológicos da comunicação de massa para também abrir um debate sobre a defesa do meio ambiente, das causas sociais, fazer severa crítica à corrupção na vida pública e discutir outros problemas nacionais.
Foi em meio a tudo isso que Glauco Pinto de Moraes, gaúcho de Passo Fundo, nascido em 1928, já aos 40 anos começou a expor individualmente. Na década de 1970, conhecido e respeitado, aqui e no Exterior (aplaudido, em especial, no Uruguai, Bélgica e Japão), participou com sucesso de crítica e de público das bienais internacionais de arte de São Paulo e, ainda, das festejadas edições do Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP).
A série denominada “Locomotivas” é o seu trabalho mais conhecido, registra a significativa participação que Glauco Pinto de Moraes teve no movimento do hiper-realismo. A inteligente ocupação do espaço, o traço firme bem determinando as formas, as cores usadas com malícia sabendo valorizar a beleza dos volumes e, acima de tudo, a luz que ressalta a qualidade de uma apurada técnica são valores que se destacam na obra do artista.
Na pintura de Glauco Pinto de Moraes se estabelece um impossível encontro entre o real e o imaginário, gerando a necessária curiosidade que nos faz sentir a emoção da arte. É como inventar algo ainda mais real do que a própria realidade, criando no espectador um estado mental no qual não há limite. Uma nítida provocação.
Em 1977, Glauco Pinto de Moraes foi premiado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), em razão da importância contemporânea de sua obra. Na II Bienal Internacional de Artes Plásticas de Havana, Cuba, em 1986, o artista foi homenageado com uma Sala Especial. Em fevereiro de 1989, Glauco Pinto Moraes começou a trabalhar na Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, como responsável pela Assessoria Especial de Artes Plásticas. Foi vice-presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), presidente da Associação Profissional dos Artistas Plásticos (APAP) e membro do Conselho Administrativo da Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Glauco Pinto de Moraes morreu em maio de 1990, na cidade de São Paulo, aonde escolheu viver desde que saiu do seu Rio Grande do Sul. Sua morte foi real, sua obra também. Por isto continua vivo.