Artista
Escultor, Hélio Petrus é filho das Minas Gerais, ou melhor, filho do “cedro”, pois é nessa madeira que dá vida ás mais diversas formas de sua expressão artística. É o sonho barroco de Mariana se transformando, através de suas mãos em anjos, querubins, madonas, santos e talhas magníficas.
Diná Jobst
Currículo
HÉLIO PETRUS
36 ANOS DE ARTE BARROCA MINEIRA
O artista plástico, Hélio Petrus nasceu em Felipe dos Santos, um pequeno povoado a 100 quilômetros de Mariana, cidade histórica de Minas Gerais, em 04 de julho de 1943. Com 07 anos mudou-se para Mariana, pois o pai era comerciante e buscava um futuro melhor para a família. A população daquela época, em 1950 era de 8.000, hoje já passa de 80.0000 habitantes.
Com 13 anos, Petrus foi para o seminário, pois não havia outros estabelecimentos de ensino na cidade.
Estudou filosofia e começou o curso de direito. Teria sido ordenado padre se não fossem os três anos que o fez abandonar o seminário para cuidar do pai enfermo.
O despertar de Petrus para fazer o entalhe barroco, aconteceu quando no Senai cursava Letras e em uma das matérias a pesquisa era sobre o barroco mineiro.
Nessa época em 1968, com 25 anos, ministrava aulas de português no SENAI, escola profissionalizante. Conta que procurou na marcenaria informações com o professor marceneiro para que lhe indicasse quais as ferramentas e qual madeira os grandes mestres usaram. Ficou surpreso ao saber que todas as esculturas e talhas ornamentais de madeira eram feitas em cedro. Sendo uma madeira macia e leve, a facilidade para entalhe é maior e por ser uma madeira amarga os bichos não destroem, não comem. Por isso as obras das igrejas mineiras são centenárias.
Nessa época, nas horas vagas, fazia rostos na madeira e percebeu que seu grande dom era para o figurativo.
Petrus é auto-didata, e um eterno pesquisador do colonial, barroco, artistas gravuristas e pinturas da renascença. Pesquisou exaustivamente sobre os grandes mestres europeus, inclusive a vida e obra do português Xavier de Brito, que foi mestre de Aleijadinho, pesquisou também Bernini, Rafael, Rubens, Michelangelo e outros.
Quando começou a entalhar, foi muito influenciado pela obra do Aleijadinho, que é o expoente máximo do barroco mineiro. Mas, Petrus diz que nas suas pesquisas sobre o barroco europeu, fez analogias e nas comparações. Aleijadinho era considerado pelos europeus como um artista primitivo, por causa do barroco pesado, carregado. Um barroco verdadeiramente mineiro. Aleijadinho tem um grande merecimento porque criou e inovou um trabalho muito pessoal, muito característico. Podemos notar que as figuras de Aleijadinho, na grande maioria, são carregadas, não tendo a perfeição anatômica e a leveza do barroco europeu.
Petrus aprendeu sozinho, nas tentativas, erros e buscas constantes.
Pioneiro em talhar arte sacra, Petrus diz que o trabalho de talha figurativa no Brasil é escasso. O que predominou foram as talhas ornamentais, em geral de casarios.
O nome TALHA, vem de entalhar, esculpindo na madeira, alto e baixo relevo.
Petrus trabalha os sulcos frontais e as laterais da talha. Sua obra é leve e as expressões de suas figuras são alegres e parecem ter alma feminina. Sua maior inspiração veio do barroco europeu. O tratamento das cores em sua obra é um grande diferencial. Por falta de referencias em talhas sobre arte sacra, buscou sua inspiração fazendo releituras das pinturas de grandes mestres pintores das igrejas de Minas Gerais.
A grande inovação na sua obra aconteceu no tratamento das cores, que ao invés da exuberância do barroco tradicional, associou a pátina, permitindo uma releitura moderna com resultado refinado, suave e agradável aos olhos.
Seus anjos musicais são verdadeiros encantos. Sua fonte de inspiração foi à obra do mestre Ataíde, na pintura, que pode ser vista no teto da igreja de São Francisco, em Ouro Preto-MG, o painel chamado de "Coroação de Nossa Senhora com os anjos musicais". Petrus lembra que o grande pintor Ataíde foi o único pintor barroco a retratar anjos musicais. E Petrus os introduz na talha.
As obras elaboradas pelas mãos desse mineiro abençoado, estão espalhadas pelo mundo. Em São Paulo, na Rua França Pinto, bairro de vila Mariana, na igreja de Santo Inácio, Petrus criou uma via sacra. São 14 talhas que compõem toda as laterais da igreja. Também talhou duas obras do Padre Alberone, fundador da ordem. Que se encontram no lado direito e esquerdo do altar. Vale a pena visitar a igreja e muito mais as 74 obras que estão expostas no MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO, até o dia 18 de junho. O endereço do Museu é Av. Tiradentes, 676, Luz, São Paulo – SP. Fone: 3326-3336.