A história da iluminação artificial, se existisse sistematicamente desde a idade do fogo até os dias atuais, também seria a história da evolução do mobiliário e dos objetos utilizados para sustentá-la. Indiretamente, se observarmos, é o que ocorre na pré-história, através de pedaços de madeira usadas como tochas, até a atualidade, com as luminárias de design contemporâneo.

No entanto, a evolução estética desses objetos realmente começa a partir da segunda metade do século XVII com a confecção cada vez mais elaborada de castiçais e candelabros de sustentação, principalmente na Inglaterra, cujas funções de iluminar e ornar os ambientes, marcarão presença nos castelos da realeza e da nobreza, como também nas igrejas. As denominações de lustres, candelabros e abajures foram surgindo ao longo dos anos com conotações e funções diferenciadas em vários países europeus, inclusive, posteriormente, no Brasil.
Oriundo dos suportes de velas, muito utilizados na Europa durante a Idade Média, a utilização dos lustres nos ambientes se torna corriqueira posteriormente. Logo cedo, exemplares dos denominados “pricket” ingleses são feitos em madeira e metal para as igrejas; tornando-se mais elaborados a partir do século XVII, onde começam a utilizar o bronze e a prata em sua confecção. Nessa mesma época, exemplares holandeses feitos com balaústre central ou coluna em desenhos de vaso ou globo de bronze polido, compostos de até 36 braços, passam a ser bastante copiados e utilizados em toda a Europa. Alguns desses lustres serão feitos em ferro forjado para serem também suspensos no teto.
Contudo, estará em Veneza e na Boêmia, provavelmente já no final do século XVI, a produção mais diversificada e delicada dessas peças: os lustres de copo. Feitos com base de metal, normalmente em bronze, esses lustres são enfeitados com pedras em cristal. Suas variações, como nos espécimes venezianos, em colorações distintas e copos opalescentes, modelados em desenhos naturalistas de folhas, flores e frutos passam a ser muito apreciados. A criação dessas maravilhas venezianas é de Guiseppe Briati (1686–1772), cujos exemplares são disputados para ornar os ambientes nobres de Veneza. Já os lustres boêmios apresentam-se ornados de maneira mais simples. Introduzidos na Inglaterra no início do século XVIII, onde seu uso é bastante divulgado, essas peças apresentam-se com braços de copos em cristal translúcido, de desenhos bojudos, composto de cabo central coberto com esferas semi-circulares. Ao longo do século XVIII, além da Inglaterra e Itália, países como França, Áustria e Alemanha incorporam essas peças nos ambientes mais nobres utilizando-se também da confecção de lustres em outros materiais, além dos metais nobres e dos cristais. O desenvolvimento das manufaturas européias de porcelana, a partir da segunda metade do século XVIII, propicia o aparecimento de belíssimos exemplares inseridos nas estéticas barroca e rococó. Manufaturas como Meissen, na Alemanha, e Sèvres, na França são exemplos de esmero artístico, antagônicos aos exemplares então ainda em voga na Inglaterra, inseridos no estilo Adam, de influência no classicismo grego, decorados por pequenas grinaldas de gotas pendentes.
No século XIX, os lustres acompanham as decorações de interior vigentes à época, destacando-se peças de formatos e tamanhos diferenciados, com braços curvos reduzidos em comprimento e quantidade, adaptados aos espaços das residências burguesas. Contudo, cristalerias como Baccarat e Saint Louis na França destacam-se por produzir peças de esmero artístico através de finas lapidações e decorações. Lustres em bronze ormolu ao estilo e época do Segundo Império também vigoram como peças utilizadas com certa freqüência nas decorações do final do século XIX até o início do século XX.
Depois que a iluminação a gás foi introduzida em meados do XIX, os “gasoliers”, como eram denominados os lustres desse sistema de iluminação, igualmente passaram a ser confeccionados em muitos estilos e materiais, como bronze, latão, cobre e cristal.
O advento da iluminação elétrica e a industrialização e descoberta de novos materiais, já no final do XIX, propiciará o advento da indústria do lustre e do design no século XX, em suas mais variadas formas e estilos.

Um pouco mais...

Forma mais antiga de iluminação artificial, composto de pavio que flutua em peça de barro ou metal, como o cobre e o bronze, tigela de óleo, conhecido desde o ano 3000 A.C. os abajures de óleo, que se desenvolveram de vários modos, são o ancestral do abajur moderno das residências atuais. Alguns exemplares de abajur se tornaram conhecidos ao longo dos séculos XVII e XVIII, como o “Argand”, mais sofisticado, e os abajures de “Sinumbra”. Os abajures de “Carcel”, de 1798, a óleo bombeado através de mecanismo de relógio, também eram bastante difundidos. No século XIX, já em 1836, o “Moderador” operava por fonte e pistão e os exemplares a gás gradualmente foram sendo adotados, apesar do óleo ainda permanecer bastante popular ao longo de todo aquele século. Muitas formas diferentes de estilos e materiais, como cobre, bronze, e abajures de metal com cúpulas de vidro e cristal desenvolveram-se ao final do século XIX e todo o século XX.

BOX

A decoração cerâmica em lustres sempre foi muito apreciada ao longo dos séculos. A sua realização se dá pelo depósito de metal em superfície de caulim, gerando freqüentemente o efeito iridescente que as cerâmicas vítreas, pintada com óxido metálico, apresentam após a queima. Efeitos de ouro, prata, cobre, cor-de-rosa, púrpura, vermelho escuro e, raramente, amarelo, são advindos desse processo. Exemplos de peças com essas características não faltam: as cerâmicas islâmicas da Idade Média e de origem hispano-mourisca; os lustres vermelhos de Deruta e Gubbio na Itália, já no século XVI; as peças de Böttger, em Meissen, no século XVIII; as decorações de lustres ingleses no XIX, provavelmente usado primeiramente em Staffordshire, no padrão de processo desenvolvido por Josiah Wedgwood em “pearlware” e os ornamentos em estêncil e decalcagem no início do século XX.

 

José Márcio Viezzi Molfi
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