Santo Antônio é uma rara pintura sobre tela do artista, cujo centenário é festejado este ano, e estava sofrendo com cupins e infiltrações

 

 

São Paulo - Depois de quase seis meses de restauração, a obra Santo Antônio, realizada por Candido Portinari em 1942, foi devolvida para a comunidade de Brodowski, mais especificamente para a Igreja de Santo Antônio, onde estava abrigada desde o ano em que foi realizada. Quem chegava à capela da cidade natal do artista, encontrava na parede atrás do altar a tela comprometida por cupins e trincas provocadas por infiltração de água. Havia até restos de pólvora no quadro, talvez resultado de bombas de festa junina. Brodowski, no interior do Estado de São Paulo, corria o risco de perder uma de suas únicas pinturas sobre tela do artista, cujo centenário é comemorado este ano.

 

Desde a década de 70 a tela não recebia os devidos cuidados. O grande problema era conseguir patrocínio para restaurá-la. A diretora do museu Casa de Portinari, Angélica Fabri, conseguiu o financiamento de R$ 20 mil e somente em janeiro foi iniciado o trabalho de recuperação da obra, que durou até este mês e foi realizado pelas restauradoras da Pinacoteca do Estado Teodora Carneiro e Valéria de Mendonça. Finalmente a tela pôde ser reinstalada na igreja, em cerimônia que ocorreu no sábado, com a presença do governador Geraldo Alckmin. "A Igreja de Santo Antônio era o ninho das andorinhas. Às tardes, era um prazer vê-las em grande quantidade chilreando e dando espetáculo com acrobacias. Iam e vinham dos fios da luz elétrica, fora da igreja."

 

Portinari registrou essa impressão em 1957. Simboliza seu carinho pela primeira capela de sua Brodowski, tanto que o artista pintou e doou Santo Antônio com a condição de a obra nunca ser retirada de lá. A igreja fica em frente da casa de Portinari, transformada em museu em 1970. O artista sempre passava as férias lá e em 1942 pintou Santo Antônio em tamanho natural (2 m x 90 cm) usando como suporte um lençol. Desde então, a obra havia sido retocada somente uma vez, pelo restaurador Edson Mota, na década de 70. Só agora a tela recebeu tratamento total. Sua borda parecia uma "rendinha", como disse Teodora, por causa dos cupins. O verniz estava velho, amarelado. A pintura, com indícios de craquelamento. Desde janeiro, a igreja foi interditada e a obra não podia mais ser apreciada pelos visitantes e pelos freqüentadores da capela.

 

Além do restauro da obra, a própria igreja sofreu reparos para não oferecer mais riscos à conservação da tela. O patrocínio de R$ 20 mil da Unimed Nordeste Paulista e de Ribeirão Preto foi destinado ao restauro da obra e R$ 5 mil de uma parceria entre a Fundação Primeiro Mundo de Cravinhos, a prefeitura de Brodowski e colaboradores da cidade para as obras da igreja, como informa Angélica Fabri.

 

A restauração integra as comemorações do centenário de Portinari. Angélica Fabri anuncia que há outro projeto em andamento para a cidade, com financiamento da Fundação Vitae e Secretaria de Estado da

Cultura: a reestruturação de toda a área expositiva e do acervo do museu Casa de Portinari - onde estão afrescos realizados pelo artista e seus objetos pessoais. O filho do artista, João Cândido Portinari, que dirige o Projeto Portinari, está em sintonia com a programação. Também a prefeitura de Brodowski planeja um memorial em homenagem ao artista, com videoteca, exposições e em agosto os Correios lançam um selo com a figura de Portinari. Em São Paulo, no início de julho, o Museu de Arte Moderna de São Paulo vai realizar uma ampla mostra sobre os 100 anos do artista.

 

Camila Molina