Masp abre hoje exposição com 25 obras da Fundação Santander com Picasso, El Greco, Miró e outros. É a primeira vez que o acervo espanhol vem à América do Sul
São Paulo - Pela primeira vez um conjunto de obras da coleção da Fundação Santander Central Hispano - como se chama o grupo na Espanha - saiu da Europa para vir à América do Sul. Até o dia 4, esteve no Museu de Belas Artes do Chile e agora chega a São Paulo, para ser exibida no Masp. A mostra Provocando o Olhar, que será inaugurada hoje para convidados e aberta amanhã para o público, reúne 25 obras de arte espanhola, italiana e flamenca, de artistas como Picasso, El Greco, Miró, Zurbarán, Tintoretto, Van Dick e Rubens.
A mostra está instalada no segundo andar do Masp, ao lado do acervo do museu. Está lá justamente porque a grande proposta da exposição é traçar um diálogo com as obras do Masp. O visitante compra o ingresso, entra no segundo piso por meio de Provocando o Olhar e sai da mostra para traçar seu próprio paralelo com as obras pertencentes ao museu paulistano. Isso, com total liberdade, "cada um receberá um guia e poderá criar suas próprias exposições, fazer suas descobertas", diz Leonel Kaz, que assina a concepção e desenvolvimento da mostra.
Um dos dispositivos para incitar o diálogo foi o de colocar ao lado de 17 das 25 obras televisores que exibirão vídeos de 40 segundos, produzidos pelo Estúdio Preto-e-Branco, que misturam imagens de obras do acervo do Masp com as da exposição. Mas as relações entre as duas coleções não são óbvias, não partem do princípio de fazer a junção por estilo, por época ou mesmo por autor - já que o Masp possui obras de muitos dos artistas presentes em Provocando o Olhar e tem sua coleção mais centrada em arte moderna, nos impressionistas, pós-impressionistas e na chamada Escola de Paris.
Por exemplo, o quadro do pintor madrileno Juan de Arellano (1614-1676), uma natureza-morta com uma cesta de diversas flores, se funde com imagens de obras do Masp como A Compoteira de Peras, de 1923, de Fernand Léger, e com O Torso de Gesso, de 1919, de Matisse. Ou a escultura de aço Toki, de 1969, de Eduardo Chilida, da coleção Santander, se relaciona com um móbile de Alexander Calder (1898-1976) e com uma escultura de Bruno Giorgi (1905-1993), Catavento. E ainda o óleo sobre tela Busto de Caballero, de 1967, se relaciona com O Retrato do Conde-Duque de Olivares, de Velázquez, do Masp, e com os vários retratos de Modigliani, presentes no museu. Também, como pensar a relação entre o quadro Pregação de São João Batista, realizado entre 1518 e 1520 por Lucas Cranach e o moderno Cinco Moças de Guaratinguetá, de Di Cavalcanti? "Pelos olhares das mulheres presentes nas duas obras", diz Kaz.
"Foi fácil fazer o diálogo", diz o historiador de arte Luciano Migliaccio, responsável pela curadoria, por fazer as relações entre os dois acervos. Como ele complementa, as afinidades entre todos os trabalhos foi estabelecida por qualidades técnicas e iconográficas. Para facilitar para os visitantes, será distribuído um guia bem completo, com 32 páginas, que propõe alguns diálogos possíveis.
Camila Molina