Para comemorar 80 anos de criação do Grupo Seibi, a Galeria ProArte promoveu, no final de 2015, uma exposição com 42 pinturas de sete artistas que participaram do Seibi kai. Três deles integraram o núcleo pioneiro do grupo – Handa , Takaoka e Tamaki -, três ingressaram nele no período do pós-guerra – Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Tomie Ohtake - e Kazuo Wakabayashi, que aderiu a ele em sua fase final.
Segundo registrado em ata, assinada por Tomoo Handa, Walter Shigeto Tanaka, Kiyoji Tomioka e convidados, os objetivos do Seibi eram: 1. estreitar amizade entre os membros do grupo; 2. fazer apreciação de obras e troca de opiniões nas reuniões mensais; 3. conseguir novos membros no interior do Estado e com eles fazer amizade; 4. estabelecer ligação com pintores brasileiros ou de outras nações e com seus ateliês e escritórios; 5. conseguir um lugar para reuniões ou ateliê; 6. educação e instrução de menores para formar pintores; e 7. promover exposições.
Foi definida como sede provisória do Seibi a residência de Tomoo Handa, localizada na Rua Alagoas, 32, no bairro de Higienópolis, São Paulo. Era lá que eles se encontravam no começo. Posteriormente, passaram a se reunir nos porões de uma sociedade beneficente japonesa, na Rua Santa Luzia, no bairro da Liberdade, reduto da colônia japonesa paulistana.
A criação foi Seibi foi bem recebida pelos artistas de origem japonesa da época e logo ocorreram as adesões de Kichizaemon Takahashi, Hagime Higaki, Massato Aki, Iwakichi Yamamoto, Yoshiya Takaoka e Yuji Tamaki, então residentes no Rio de Janeiro, onde participavam do Núcleo Bernardelli. Todos são considerados fundadores e integram o grupo na primeira fase de sua existência.
O Seibi conheceu dois períodos distintos de existência: o primeiro, que se estendeu de 1935 até a Segunda Guerra Mundial; e o segundo, de 1947 até a dispersão de seus membros, ocorrida no início dos anos 1970. Embora só tenha entrado na guerra em julho de 1944, o Brasil, em função de resolução da III Reunião de Chanceleres Americanos, da qual fez parte, rompeu relações diplomáticas e comerciais com o Japão em janeiro de 1942, o que privou os japoneses residentes no Brasil do direito de reunião. Já mesmo antes desta data, eles se recolheram expontaneamente, evitando manifestações públicas.
Em sua primeira fase, o Seibi conseguiu realizar um salão de seus membros, em 1938. Na segunda, foram realizadas 14 mostras anuais: de 1952 a 1954; de 1958 a 1960 e de 1963 a 1970. Neste período, o grupo passa a ser conhecido como Seibi-kai (Sei – abreviação de São Paulo; bi, de artes plásticas; e kai, de agremiação).
Após a interrupção das atividades do Seibi em função da Segunda Grande Guerra, o grupo volta com força renovada em 1947 atraindo novos artistas tais como Takeshi e Teiiti Suzuki, Massao Okinaka e sua esposa Alina, Kenjiro Massuda, Massami Tanaka e seu filho Flávio Shiró, Nishimura, Minoro Watanabe, Kasuo Tsumori, Tadashi Kaminagai (comparecia esporadicamente), Mitsuo Toda, Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Tikashi Fukushima, aos quais juntou-se uma nova geração constituída por Yukio Suzuki, Massumi Tsuchimoto, Hissao Ohara, Kazuo Wakabayashi e os nisseis Mari Yoshimoto, Jorge Mori, João Suzuki.
Os nipônicos e seus descendentes trouxeram para a arte brasileira uma contribuição inestimável: a fusão da cultura japonesa com a brasileira. Com efeito, sabe-se que existem diferenças marcantes entre as mentalidades ocidental e as orientais, entre elas a do extremo oriente na qual se insere a japonesa. Há entendimentos e comportamentos às vezes antagônicos. Nas paletas e telas nipo-brasileiras, os gestos foram guiados por expressões individuais, porém resultantes de uma mistura enriquecedora, na qual às vezes predomina o substrato do ocidente e em outras, o do oriente; ora a explosão, ora a contenção; ora a reflexão, ora a ação; e, em alguns casos, o equilíbrio entre os dois polos. Os iniciados sabem perfeitamente o quanto a mistura de sabores pode ser grata ao paladar. E que sabor e saber são palavras que têm a mesma origem.
Enock Sacramento