Cientista diz que sorriso da obra-prima de Leonardo da Vinci é fruto da "maneira peculiar como o olho humano processa as imagens"

 

La Coruña, Espanha - O enigmático sorriso da Monalisa, de Leonardo da Vinci, é "uma ilusão que aparece e desaparece devido à maneira peculiar como o olho humano processa as imagens", de acordo com uma pesquisa sobre os mecanismos da visão da neurobióloga Margaret Livingstone.

 

Dentro do Congresso Europeu de Percepção Visual (ECVP 2005) realizado nesta semana na cidade de La Coruña, no noroeste da Espanha, a pesquisadora argumentou nesta quinta-feira que quando no século XVI Leonardo Da Vinci pintou a Monalisa conseguiu um efeito pelo qual o sorriso desaparece quando o quadro é visto diretamente e só reaparece quando a vista é fixada em outras partes do quadro.

 

Segundo esta professora da Universidade de Harvard, o artista criou essa ilusão usando "de maneira intuitiva" truques que agora começam a ter base científica. A teoria de Livingstone se apóia no fato de que o olho humano tem uma visão central, muito boa para reconhecer os detalhes, e outra periférica, menos precisa, mas mais adequada para perceber as sombras.

 

"Da Vinci pintou o sorriso da Monalisa usando sombras que vemos muito melhor com nossa visão periférica", afirmou. Por isso, para a Monalisa sorrindo é preciso olhar nos olhos da pintura ou qualquer outra parte do quadro, de modo que seus lábios fiquem no campo da visão periférica.

 

Livingstone estuda agora porque tantos gênios da pintura tinham alguma deficiência visual. A pesquisadora usou o exemplo de Rembrandt, cujo estrabismo reduzia sua capacidade para ver em três dimensões, o que, em sua opinião, foi bom porque "ter uma percepção da profundidade pobre pode ser uma vantagem em uma profissão em que o objetivo é modelar o mundo tridimensional em uma tela plana".

 

A pesquisadora disse que não tenta "desmitificar a arte", mas explicar cientificamente técnicas que os artistas vieram usando de maneira intuitiva há muito tempo. "Os artistas estão muito mais tempo que nós, os neurobiólogos, estudando os processos visuais", reconheceu.

 

 

EFE