Após um enfarte, colecionador de 90 anos decidiu se desfazer das obras para ter certeza de que ficarão em boas mãos
Rio de Janeiro - Um par de anjos, uma imagem de Nossa Senhora da Piedade e outras obras de Aleijadinho, mestre do barroco mineiro, estarão à venda no que pode ser um dos mais importantes leilões do mercado brasileiro de arte nos últimos tempos. As peças pertencem ao médico João Bosco Vianna Gonçalves, especialista no artista e cunhado do banqueiro Walter Moreira Salles. Aos 90 anos, após sofrer um enfarte, o colecionador quer ter a certeza de que as obras ficarão em boas mãos.
Entre as peças principais estão um par de anjos de presépio (com preço mínimo de R$ 600 mil); duas imagens de 18 centímetros, uma Nossa Senhora da Piedade e um São João Nepomuceno (R$ 500 mil), uma cabeça de Cristo Ultrajado em tamanho natural (R$ 300 mil) e um Anjo de Sepulcro sentado em nuvens (R$ 550 mil). Há ainda um crucifixo em pinho de riga (R$ 100 mil), cujas características Gonçalves garante serem do artista. "A musculatura, a boca aberta e os olhos amendoados, além do caimento dos tecidos, são características dele."
O leilão está marcado para ocorrer entre 13 e 16 de agosto, na galeria Leone. Gonçalves é colecionador desde a adolescência, passada entre Santa Luzia, cidade história na região metropolitana de Belo Horizonte, e São João del Rey, perto da região onde o artista viveu há 200 anos. Gonçalves começou a comprar arte sacra mineira nos anos 30 e sua primeira peça, um pequeno oratório, está entre as 60 à venda. Vai vendê-las porque seus herdeiros não apreciam arte barroca. Se a família não liga, vários colecionadores já procuraram conhecer as peças, pois a última vez que uma obra de Aleijadinho apareceu à venda no Rio estava com preço mínimo de US$ 1,2 milhão (cerca de R$ 3,5 milhões).
"Em 26 anos de pregão, nunca vendi um Aleijadinho. São peças que enobrecem meu ofício", diz o leiloeiro Acir da Costa. "Devem sair pelo menos pelo dobro do preço mínimo, pois quem tem uma obra de Aleijadinho não a vende." Além de comprar as peças num tempo em que a arte barroca era pouco valorizada até pela própria Igreja Católica, Gonçalves aprendeu a restaurá-las com especialistas ou por conta própria. Hoje, tem autoridade para autenticar as peças.
Beatriz Coelho Silva