São Paulo - O adolescente P.S.C., de 18 anos, começou 2004 com o pé esquerdo.
No dia 1.º de janeiro foi conduzido à Febem por "andar num negócio que não dá certo", segundo define. Garoto da Vila Clara, estudante do 2.º ano colegial, ele virou na época o que se chama de "menor infrator" - um problema para os pais, um problema para si mesmo, um pepino para o Estado.
Mas descobriu-se uma coisa sobre P.S.C. (o nome está grafado somente com as iniciais por recomendação da Justiça): ele gosta de pintar, é fã de Portinari e tem ambições artísticas. Seu perfil também difere de uma maioria. Por exemplo: em vez de Charlie Brown Jr. e CPM 22, prefere Caetano Veloso e Djavan.
Assim, a partir da segunda semana de maio, o problema P.S.C. passa a ser também sinônimo de solução. Ele foi indicado para trabalhar num lugar que pode dar-lhe uma nova direção na vida: a Pinacoteca de São Paulo.
P.S.C. esteve pela primeira vez no seu futuro "trampo" na sexta-feira.
"Anotei num papelzinho os nomes dos artistas. Gostei muito daquele Almeida Júnior. Tem uma tela dele lá, de 1850, que é linda", afirmou P., que também se arrisca na pintura. "Eu tento, né? Pinto no sulfite, na madeira, na tela.
Não picho, não. Porque aí já é um contraste, né? Gosto daquele Pedro Américo também, ele é demais."
O estágio do rapaz vai durar seis meses, cinco horas por dia, período no qual ele receberá R$ 162,50 mensais, além de cesta básica e vale-transporte.
O governo entra com R$ 65,00 e a iniciativa privada com R$ 97,50.
Mas P. acha que seu pagamento vai ser ainda melhor. Quer aprender. "Uma vez vi uma coisa sobre as técnicas do Portinari. Acho muito difícil aquele negócio de misturar cor com cor. É muito difícil achar o tom."
O programa ao qual P.S.C. se integrou está alocando 25 jovens saídos da Febem em museus, teatros e outros espaços culturais. É fruto de parceria do Governo do Estado (Secretarias de Cultura, Educação, Emprego e Relações com o Trabalho e Febem) e Companhia Brasileira de Alumínio.
Jotabê Medeiros