Rio de Janeiro - A artista plástica Lygia Pape morreu nesta segunda-feira, aos 75 anos, no Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Uma das mais importantes artistas brasileiras, representante do movimento neoconcreto dos anos 50 no Brasil, Lygia estava internada há uma semana, vítima de um câncer na medula, segundo informações do Globo Online.
Lygia Pape nasceu em Nova Friburgo, no Rio, em 1929, e deixa uma obra marcada pelo abstracionismo geométrico e por uma diversificação exemplar. Uma de suas obras mais instigantes é o Livro Noite e Dia, um conjunto de 365 peças de madeira em tons que vão do branco ao cinza, todas diferentes umas das outras. Entre os vários prêmios que recebeu, destaca-se o da Associação Brasileira de Críticos de Arte, em 1990, com a série Amazoninos.
"Os Amazoninos são peças de ferro em que eu trabalho como se fossem grandes origamis, tento dar ao ferro a leveza do papel", disse em entrevista ao Estado. "São e serão sempre uma alusão à Amazônia e à linha de urucum pintada na parede... como uma linha da vida. A Amazônia é incrivelmente bela... E forte. O vermelho é uma cor de que gosto muito, está sempre presente em mim", disse em entrevista sobre a retrospectiva organizada pela Galeria Milan no seu aniversário de 50 anos de carreira.
Nos anos 50, Lygia aproximou-se dos concretistas, mas acabou integrando o Grupo Frente e assinando o Manifesto Neoconcreto, liderado pelo poeta Ferreira Gullar, tendo participado em 1958 da exposição internacional de arte concreta, em Zurique, Suíça. Expôs também na 3.ª, 4.ª e 5.ª Bienais Internacionais de São Paulo daquele período. Foi muito amiga de Hélio Oiticica, talvez o maior expoente da arte no período e depois de sua morte, em 1980, a artista passou a cuidar do acervo do amigo, retomando a produção artística somente em 1988.
Lygia usou o corpo humano numa série de trabalhos de 1959, explorando o tato, o olfato e o paladar. No fim dos anos 50 e início dos 60, iniciou a trilogia de livros de artista, com o Livro da Criação, Livro da Arquitetura e Livro do Tempo. Em 1967, participou da exposição Nova Objetividade Brasileira com a Caixa de Baratas e a Caixa de Formigas. Em 1968, no evento Apocalipopótese apresentou seu objeto penetrável Ovo. Panos perfurados eram o tema da série Divisor, de 1969. Nas décadas de 1980 e 1990, trabalhou com a ilusão dos sentidos o pesado parecia leve e vice-versa.
Lygia envolveu-se também com o Cinema Novo, cuidando da programação visual de vários filmes, como Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.
Lygia foi mestre em estética filosófica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi professora da Faculdade de Arquitetura Santa Úrsula e lecionou na Escola de Belas Artes da UFRJ.
Por vontade da artista, seu corpo será cremado, sábado, no Caju (zona portuária). Também a pedido dela, haverá uma missa cantada no Mosteiro de São Bento no sétimo dia de sua morte. “Ela não queria virar uma instalação, por isso não queria velório. Para ela tudo isso era um saco. Pode escrever”, disse uma das filhas de Lygia, Paula Pape, com quem ela morava. Paula disse que a mãe era uma pessoa “pra cima” e até o fim da vida manteve-se ativa, elaborando muitos projetos. Lygia tinha outra filha, Maria Cristina Pape, e um “filho de estimação”, Ricardo Fortes, que trabalhava com a artista e é o pai de seus dois netos. Ela deixou viúvo Gunther Pape.