Removendo manualmente os escombros e pedaços de metal retorcido, trabalhadores haitianos, auxiliados por engenheiros militares japoneses da Organização das Nações Unidas (ONU), resgataram nesta segunda (22) algumas pinturas e esculturas valiosas dos escombros de um dos mais notáveis museus de arte do Haiti.
 
 
Os trabalhadores e soldados da ONU procuravam salvar o que era possível do rico patrimônio artístico haitiano, devastado pelo terremoto de 12 de janeiro, que, segundo o presidente, pode ter deixado até 300 mil mortos.
 
O Museu Nader de Arte, de Porto Príncipe, tinha 12 mil telas, sendo provavelmente a mais importante coleção privada de arte haitiana no mundo. Foi reduzido a escombros pelo terremoto, que também danificou gravemente o Palácio Presidencial, a catedral de Porto Príncipe e muitas outras construções históricas.
 
Desde o terremoto, há seis semanas, funcionários da galeria vêm cuidadosamente retirando dos destroços as obras mais importantes. Telas em cores fortes, muitas delas rasgadas e manchadas, são empilhadas de um lado, enquanto molduras de madeira vazias são colocadas em outra pilha.
 
Funcionários levam embora esculturas de madeira e metal, algumas delas com pernas ou braços faltando, num reflexo doloroso dos ferimentos humanos provocados pelo terremoto.
 
 
Esperança de salvar 50%
 
Georges Nader Jr., de 40 anos, filho do dono do museu, Georges S. Nader, disse que a etapa de "busca e resgate" dos trabalhos no museu está quase concluída. "Estamos escavando há um mês. A fase da remoção manual quase terminou. Depois virão as máquinas pesadas", disse ele.
 
Sobre as perdas sofridas pelo acervo, ele se mostrou filosófico. "Acho que, com restauração, cerca de 50 por cento poderá ser salvo", disse Nader. Uma outra galeria Nader, esta no distrito de Petionville, sobreviveu ao terremoto.
 
Cerca de 95 por cento do setor do museu dedicado aos mestres haitianos, incluindo obras de Hector Hyppolite (1894-1948) e Philome Obin (1892-1986), sobreviveram porque ocupavam a parte de frente do edifício que desmoronou.
 
Das esculturas do museu, que refletem o rico legado africano do Haiti --que conquistou sua independência com uma revolta de escravos em 1804-- Nader estima que cerca de 60 a 70 por cento foram perdidas.
 
 
Oficiais japoneses da ONU, usando bonés e capacetes azuis e os distintivos do Regimento de Prontidão Central japonês, supervisionavam os trabalhadores e uma escavadeira mecânica.
 
Cerca de 200 militares japoneses participam do esforço internacional de ajuda no Haiti, e esse número subirá para mais de 300 em março, disse o capitão Shingo Hakayawa.
 
Os pais de Nader sobreviveram ao terremoto. Seu pai, Georges, de 78 anos, fundou a coleção em 1966.
 
Nader disse que acredita que boa parte do patrimônio artístico do Haiti, incluindo os famosos murais dos anos 1950 da catedral Sainte Trinité, foi perdida.
 
Espantosamente, porém, muitas das casas mais antigas de Porto Príncipe, construídas de madeira no ornamentado estilo caribenho "biscoito de gengibre" sobreviveram ao terremoto de magnitude 7, enquanto centenas de estruturas mais modernas de concreto, aço e alvenaria desmoronaram.
 
A França, antiga potência colonial do Haiti, vai fazer um estudo preparatório para a reconstrução do Palácio Presidencial destruído e se ofereceu para restaurar uma tela danificada de 1822 que retrata os heróis da independência haitiana e foi salva por uma equipe francesa nos escombros do palácio.