Esses eternos esquecidos

 

 

Os artistas plásticos são, decerto, os menos festejados entre todos profissionais do setor artístico. Paradoxalmente, no entanto, são os mais lembrados post-mortem, pelo fato de seus trabalhos ficarem materializados para a posteridade. Contudo, ainda hoje, as homenagens são raras...

 

Diferente do que ocorre com os de outras áreas, dificilmente, a morte de um artista plástico é noticiada nos jornais - sequer no obituário -, a não ser quando a família paga. Não noticiam até porque não conhecem os artistas plásticos brasileiros. A profissão, tampouco, é reconhecida no Brasil, o que só acontece na Alemanha, Bélgica e Canadá. É a realidade.

 

A data da comemoração foi escolhida em homenagem ao pintor José Ferraz de Almeida Júnior, lembrando o seu nascimento em Itu-SP, no dia 8 de maio de 1851. Almeida Júnior estudou na Academia Imperial de Belas-Artes, onde foi aluno de Júlio Le Chevrel e de Vítor Meireles. Teve, também, formação européia, nomeadamente, na Escola Superior de Belas-Artes de Paris, tendo sido aluno do célebre Cabanel.

 

Almeida Júnior teve a vida e a carreira ricas em emoções e faleceu, tragicamente, em 13 de novembro de 1899, em Piracicaba-SP. Não deixe de acessar o link, no parágrafo anterior.

 

Quem se lembra?

 

Você sabia que oito de maio é "Dia do Artista Plástico?" Já percebeu que este dia sempre passa em branco?

 

Cinco de novembro é o Dia da Cultura. Pois em 5 de novembro de 1998, época em que estava finalizando o Manual do Mercado de Arte, o jornal "O Globo" publicou a programação das festividades da data, no Rio de Janeiro:

 

Paixão de ler (literatura), Nós do Morro (musical funk), Guinga (show do violonista e compositor), Blues (shows de bandas do gênero), Visitas guiadas (à Biblioteca Nacional), Rádio (a MEC organizou uma programação especial), Dança (espetáculo na Uerj), e Histórias (contadores de histórias etc.).

No que diz respeito às artes plásticas, nada! Praticamente, nada se viu de diferente daquela data para cá. Parece até implicância...

 

Nos anos subseqüentes, tanto no dia 8 de maio, como no dia 5 de novembro, a situação não mudou.

 

Gustavo Dall'Ara, um injustiçado

 

Vou cristalizar esse estado de coisas em um só exemplo. Gustavo Dall’Ara (1865-1923) retratou como ninguém os principais aspectos da cidade do Rio de Janeiro de sua época. Pelo conjunto iconográfico de sua obra, é conhecido no mercado de arte, até hoje, como "O Pintor da Cidade do Rio de Janeiro".

 

Contudo, todos os prefeitos e vereadores da Cidade Maravilhosa, de 1923 - ano em que faleceu - até hoje, se omitiram ou não souberam disso. Lá se vão mais de 80 anos, sem que Dall’Ara tenha recebido sequer um título de cidadão honorário post-mortem - já que nasceu na Itália - ou tenha seu nome em algum logradouro público do Rio de Janeiro.

 

As duas únicas homenagens post-mortem que Dall’Ara recebeu:

 

a publicação do livro "Gustavo Dall’Ara", de Ronaldo do Valle Simões, Sandra Quintella e Umberto Cosentino (da Livraria Winston Editora - Rio de Janeiro), que descortina a vida e a obra do mais importante pintor iconográfico da Cidade Maravilhosa;

 

a retrospectiva de sua obra, organizada pelos mencionados escritores no MNBA, em 28/1/87, objetivando o lançamento do livro. Em se falando do livro, trata-se de literatura obrigatória em todas as estantes e bibliotecas, mormente, daqueles que são ligados à pintura ou amem a cidade do Rio de Janeiro.

Resgate de memória

 

Contudo, a memória de Dall’Ara ainda está à espera de uma homenagem do poder público da cidade que tanto amou. A importância do artista exige que seu nome seja dado a um logradouro público e que, de fato, seja uma homenagem e não uma expiação.

 

Sem dúvida, será uma pena se a homenagem for realizada fora do chamado Corredor Cultural do Rio de Janeiro, local que tanto lhe serviu de inspiração.

 

Depois que se der o seu nome a um logradouro público, que faça parte do Corredor Cultural da cidade. Assim, se poderia, por todos os méritos, intitular o sobredito corredor de Corredor Cultural Gustavo Dall’Ara. Fica aqui lançada a idéia.

 

A coisa começa a mudar...

 

Já se começa a dar importância ao "Dia do Artista Plástico". No dia 8 de maio de 2003, em alguns pontos do país, se bem que ainda timidamente, soube que a data foi comemorada.

 

O "Bureau do Artista", no Downtown, na Barra da Tijuca, promoveu uma belíssima festa, com palestras e homenagens àqueles que se destacaram na defesa dos artistas e das artes plásticas, nos últimos quatro anos em que o espaço está aberto. Pela terceira vez, o "Bureau do Artista" comemora, efetiva e consecutivamente, a data. Aí está um exemplo a se seguir.

 

Em Brasília, a empresa "Ponto Final Papelaria" festejou a data pela primeira vez, editando uma belíssima publicação informativa, veiculada na internet aos seus clientes.

 

Tomei conhecimento que várias galerias de arte e espaços culturais, espalhadas pelo Brasil, comemoraram a data com mostras individuais e coletivas. Antes de 2000, poucos sabiam e ninguém comemorava o Oito de Maio - o "Dia do Artista Plástico".

 

Surpresa maior nos deu o INSS de São Paulo, que em seu website publicou a matéria "Previdência lembra o Dia do Artista Plástico".

 

Contudo, ainda é muito pouco. De um modo geral, é o que se constata, a mídia desconhece a data.

 

Você, também, é responsável

 

Todos que atuam no mercado têm uma parcela de responsabilidade pelos fatos aqui ainda lamentados, principalmente, pela falta de união e de espírito de grupo que ainda se testifica.

 

A união faz a força. Veja esta imagem: é impossível rasgar um catálogo telefônico, a não ser que se rasgue algumas folhas de cada vez... Portanto, que todos se unam no sentido de resgatar o prestígio devido, por direito, aos artistas plásticos brasileiros e estrangeiros que criam ou criaram arte no país. Falo disso, no Manual do Mercado de Arte.

 

Todas as soluções de uma classe passam, necessariamente, pela união de todos os seus profissionais. Uma pergunta: o que você tem feito pela sua classe?

 

 

João Carlos Lopes dos Santos

Autor do Manual do Mercado de Arte Júlio Louzada Publicações - SP

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