Algumas sextas-feiras atrás, um jovem dançarino contemporâneo chamado Will Rawls trabalhava em sua produção atual, a retrospectiva de arte performática de Marina Abramovic, no Museu de Arte Moderna de Nova York. Especificamente, ele estava nu na entrada da galeria, de frente para uma mulher também nua, enquanto os visitantes passavam pelo espaço estreito entre eles. Era uma recriação de Imponderabilia, uma peça conhecida, apresentada originalmente por Abramovic e seu parceiro nos anos 1970.
Pelo canto do olho, Rawls notou um homem mais velho se preparando para atravessar entre os artistas.
"Então, ele deslizou a mão pelas minhas costelas e costas e tocou meu traseiro", Rawls disse. "Ao passar por mim, ele me olhou nos olhos e disse 'Sentir você é gostoso, cara.'"
"Simplesmente me virei e olhei para o segurança, dizendo 'esse homem está me tocando.' Então, voltei os olhos para minha parceira e deixei por isso mesmo."
Quando seu turno terminou, Rawls disse, ele soube de um responsável pela segurança que o MoMA havia cancelado a carteirinha de associação de 30 anos do homem e o proibido de voltar ao museu. (O museu não quis comentar sobre incidentes específicos, mas divulgou uma nota dizendo que "qualquer visitante que tocar ou perturbar de maneira imprópria" um artista será removido.) Como se constatou, um museu cheio, como um metrô cheio, não é desculpa para apalpadas impróprias -uma lição que alguns visitantes aprenderam da forma mais difícil durante a retrospectiva, The Artist Is Present.
"Em pelo menos três ocasiões, ouvi falar de pessoas que foram retiradas da galeria por apalpações impróprias", disse Gary Lai, outro artista, que fora informado disso por seguranças e colegas performáticos. "Não achei que isso fosse acontecer de forma alguma; quem faria algo com todas essas pessoas em volta?"
O trabalho de Abramovic, que muitas vezes envolve nudez e poses, em que os artistas ficam de pé ou deitados por longos períodos, é um convite ao contato de todos os tipos na exposição do MoMA. E a mostra fez com que os próprios artistas se tornassem espectadores fascinados, tendo em geral gostado de participar da empreitada, apesar dos desafios inegáveis.
Além dos apalpadores, houve outras impropriedades menos extremas, mas ainda irritantes. Rawls, por exemplo, disse que, ao posar com os braços nas laterais, ele havia sentido mais ereções "nas costas da mão do que consigo contar", e Kennis Hawkins, também uma artista da recriação de Imponderabilia, descreveu um visitante clandestinamente tirando fotos dela e de sua parceira na altura da cintura, enquanto posavam no fim de semana passado. (É proibido tirar fotos na exposição.) Outro dia, ela acrescentou, uma visitante excitada de salto alto ficou tão envolvida enquanto observava outro artista que pisou nos dedos dos pés de Hawkins, fazendo com que a artista desmaiasse logo em seguida.
E também existem os tipos perseguidores, que procuram os artistas no Facebook. Sem mencionar os que ficam comentando, elogiando ou criticando os corpos dos artistas, gritando para eles acordarem quando seus olhos estão fechados e até mesmo avisando prestativamente os artistas nus que "sua braguilha está aberta".
Numa ocasião, Lai conta, o líder de uma excursão sem filiação ao museu apontou para o abdômen de uma artista e, falando alto, identificou (incorretamente) uma cicatriz "de cesariana".
Rebecca Davis, uma artista que está afastada há várias semanas com uma lesão nas costas sem relação com a mostra, disse que também havia se surpreendido com o número de gestos inadequados. Ela se lembra de seu choque quando ouviu que "alguém agarrou as partes privadas" de um artista no primeiro fim de semana da mostra, e contou que uma mulher, talvez embriagada, agarrou os dedos de duas pessoas na performance Point of Contact, na qual dois artistas imóveis olham e apontam um para o outro.
"Ela provavelmente pensou que estava só brincando, mas o ato em si pareceu agressivo", Davis disse.
Davis, como vários de seus colegas, também disse que o museu havia sido extremamente vigilante em seus esforços para protegê-los. (Alguns artistas disseram que os seguranças eram zelosos até demais, embora expressassem sua gratidão.)
Numa breve nota, o departamento de comunicações do museu enfatizou que houve poucos e esparsos incidentes desagradáveis durante o período do que foi descrito como uma mostra de tráfego intenso. O MoMA, a nota acrescentou, está "muito ciente dos desafios que o uso de artistas nus nas galerias apresenta", e "aconteceram discussões entre a equipe de segurança do MoMA, Marina Abramovic e os artistas para assegurar que os últimos se sentissem confortáveis nas galerias o tempo inteiro".
E apesar do desconforto físico e emocional dessas atitudes inapropriadas -e da natureza exaustiva do trabalho- todos os artistas entrevistados disseram que se sentiam alegres na maior parte de seus turnos de trabalho diários (alguns dos quais se limitam agora a uma hora e 15 minutos, devido a muitos episódios de desmaio). Existem muitos momentos mágicos com estranhos, incluindo aqueles que tocam inocentemente a pele exposta, sussurram "obrigado" e improvisam dancinhas que fazem com que os artistas percam sua postura geralmente austera e caiam no riso.
Muitos desses artistas têm suas próprias carreiras como dançarinos e coreógrafos, e descreveram a experiência no MoMA como uma que os fez sentir ao mesmo tempo vulneráveis e fortalecidos. A respeito da diferença entre o ambiente de um museu e um palco, Lai disse que o primeiro era muito mais gratificante.
"Recebemos uma resposta imediata", ele disse. "Causamos uma reação definitiva no público, diferente da reação típica que desejamos de uma apresentação normal no palco. Isso envolve mais a natureza humana."
The New York Times