O Masp (Museu de Arte de São Paulo) volta, a partir de hoje, a ser uma instituição que valoriza a a arte contemporânea, com a abertura, para convidados, da exposição de Alex Flemming, 52. Paulistano radicado em Berlim, Flemming exibe uma nova faceta de sua produção, com 76 fotografias digitais impressas em telas de PVC.
A opção pelos contemporâneos já é resultado da nova política artística do museu, agora comandada por um curador coordenador, Teixeira Coelho, que teve boa passagem pelo MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo).
Coelho quer privilegiar artistas de meia-idade que não tiveram exposições ou retrospectivas de peso na cidade. O videoartista Eder Santos deve ser o próximo, com mostra prevista para maio. No mesmo segmento, o museu programou exposições de Arthur Omar e Ana Maria Tavares.
"O Flemming tem uma produção consistente, é convidado para diversas exposições no exterior, mas, no Brasil, tem poucas publicações, é pouco visto e não possui nem galeria em São Paulo", afirma Coelho.
Geografia do corpo
Há um ano, Flemming disse à Folha que estava "otimista" quanto à opção pela fotografia digital. "Depois daquelas imagens iniciais, continuei me exercitando e não parei de fazer fotografias até o começo do ano", conta ele.
O artista percorreu São Paulo, Brasília, Belém, Recife, Lisboa, Berlim e Jerusalém em busca de imagens que transitassem entre os pontos tradicionais mais conhecidos --como igrejas e museus-- e os mais corriqueiros --lanchonetes, "sushi bares", aviões, metrôs.
"Tento obter novos olhares tanto sobre lugares sacramentados, como as igrejas, e os não-lugares que existem em todo o mundo, como o 'sushi bar'", diz ele. "Em todos, tento remeter a uma experiência pictórica, na qual a beleza se apresenta em detalhes, que podem aparecer em mudanças mínimas de ângulos do mesmo local."
O sagrado e o "profano" se misturam, como na montagem de fotografias que fecha a exposição, exibindo um Cristo barroco próximo à figura de um modelo masculino. "O corpo tem uma característica forte de transcendência, também presente nas fortes imagens religiosas. Fazer uma leitura conjunta é bastante político nestes dias de neoconservadorismo", acredita o artista.
Arquiteto de formação, Flemming, cuja série mais famosa é "Sumaré", obra pública na estação homônima de metrô, em São Paulo, utilizou com sabedoria o prédio do museu, de autoria de Lina Bo Bardi (1914-1992). Isolou um dos andares, pintando-o de preto, mas mantendo aberturas para o lado de fora --o da avenida Paulista.
Fez também com que os polêmicos cavaletes expositivos inventados por Lina, de concreto e vidro, criassem um jogo de transparências e reflexos. "Coloquei os cavaletes em diversas alturas e ângulos, fazendo com que as obras dialoguem. A inteligência de Lina, assim, permanece", diz.
MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo