Heitor Martins, o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, apresenta hoje, em uma reunião do Conselho, o primeiro balanço negativo de sua gestão --que superou os principais problemas que a Bienal atravessava até o ano passado, como o descrédito internacional e nacional ou a incapacidade de conseguir recursos para a instituição.

A mostra em cartaz em São Paulo não está tendo o público esperado e, se mantiver a média, deve chegar a 553 mil visitantes, quase 45% menos do que o anunciado.

Até quinta passada, cerca de 260 mil pessoas tinham passado pelas catracas do pavilhão da Bienal. Outras 40 mil entraram por fora, como professores inseridos no programa educativo ou convidados dos patrocinadores da mostra, o que chega a 300 mil visitantes.

Assim, em 45 dias, a mostra conseguiu atrair uma média diária de 6,6 mil visitantes. Projetando-se esse valor para os dias que ainda faltam até o fim da mostra, o total chegaria a 553 mil visitantes.

"Um milhão é um valor inspiracional, ele representa o desejo de que a mostra seja voltada para o público", afirma Martins, que tampouco se diz frustrado com a frequência --a propósito, bem próxima das de outras edições.

TRANSPORTE ESCOLAR

Um dos fatores que estão derrubando a meta estabelecida é o programa educativo do evento, que objetivava levar à Bienal 400 mil alunos e, segundo nova previsão de Martins, deve chegar à metade: 200 mil.

"A gente não calculava que seria tão difícil conseguir o transporte para tanto aluno, é um problema operacional, de falta de ônibus disponíveis na cidade", explica Stella Barbieri, curadora do projeto educativo da Bienal.

"Isso é um aprendizado, não é má vontade de ninguém. Trazer tanto aluno não é simples, mas isso pode ser melhorado ao longo dos anos", conta Martins.

Parte essencial desse programa são as secretarias estadual e municipal de Educação. A primeira tinha por meta levar 30 mil alunos ao evento. Até o momento, segundo sua assessoria de imprensa, 38 mil estudantes participaram do programa, com transporte e lanche incluídos. Já a Secretaria Municipal agendou 68 mil visitas, número pouco abaixo do esperado.

Por outro lado, o programa educativo superou o atendimento aos professores: de 20 mil esperados, foram atendidos entre 30 e 35 mil, segundo Barbieri.

"O professor nunca foi tão respeitado como nessa Bienal e, por isso, não me incomodo com o fato de os números nas catracas não serem os esperados. Através dos professores, a Bienal se estende a muitos alunos que têm feito um trabalho incrível, mesmo que sem ver a mostra", afirma Agnaldo Farias, um dos curadores.

Para ele, que se encontra em Chicago e falou por telefone com a Folha, houve um "certo otimismo" na previsão de um milhão, "pautado pelos números das edições anteriores", mas a visitação dessas edições, duas das quais ele participou (1996 e 2002), pode ser questionada: "Não se sabe até que ponto se pode confiar naqueles números", diz o curador.

COMPARAÇÕES

Contudo, mesmo que fique com 553 mil visitantes, se comparada a outras mostras internacionais com o mesmo caráter a Bienal de São Paulo não faz feio.

Ela ainda irá superar a centenária Bienal de Veneza, que em sua 53ª edição, no ano passado, alcançou seu recorde com 375 mil visitantes, ficando em cartaz por quase cinco meses.

Em outra comparação possível, com a Documenta, de Kassel, ela perde bastante. Em 2007, o evento alemão chegou a 754 mil visitantes. Mas, afinal, a Documenta ocorre apenas a cada cinco anos, fica no centro da Europa e é considerada a mais importante do gênero.