SÃO PAULO (Reuters) - Peter Parker é nova-iorquino, sem dúvida alguma, mas o processo de transformação em Homem-Aranha acontece muito longe de Manhattan.
O fotógrafo de óculos é transformado em super-herói num pequeno apartamento em São Paulo. O Homem-Aranha é um dos muitos super-heróis que ganham vida nos desenhos de um número cada vez maior de artistas brasileiros que trabalham no altamente competitivo mercado de histórias em quadrinhos dos Estados Unidos.
Roger Cruz tem 35 anos, trabalha para a editora Marvel Comics há 15 anos e já produziu capas do Homem-Aranha e outras histórias.
Desenhando uma página por dia, entre o meio-dia e as 2h da manhã, ele desfruta a liberdade de trabalhar em casa.
"Posso parar para olhar a vista, fazer meu almoço ou ouvir música", disse o artista à Reuters, sentado em seu sofá diante de uma mesa de trabalho repleta de lápis, canetas e papéis.
Seu currículo inclui desenhos do Hulk, X-Men, Wolverine, Uncanny X-Men, X-Men Alpha, X-Men Ômega, X-Patrol e Generation X.
X-Men Alpha foi a revista em quadrinhos mais vendida nos Estados Unidos em 1995 e fez de Roger Cruz um astro no mundo das HQs.
"Quando fui à conferência da Comics em San Diego, precisei pedir um visto, e o sujeito do consulado americano facilitou minha vida quando viu que eu era o cara que tinha ilustrado o X-Men Alpha. Ele era fã", contou Cruz.
A tendência de empregar artistas brasileiros para ilustrar HQs americanas começou nos anos 1980. O primeiro grande trabalho de um ilustrador brasileiro foi Justice League America, publicado pela DC Comics e desenhado por Marcelo Campos, 42 anos.
Campos e Octavio Cariello, 43 anos, também trabalharam na HQ Green Lantern, conhecida no Brasil como Lanterna Verde.
Esses pioneiros abriram a porta para outros artistas. Alguns trabalham para editoras menores. Mas um grupo seleto desenha os mais famosos super-heróis de quadrinhos para as maiores empresas do setor, como a DC ou a Marvel.
"Hoje temos um selo de qualidade: 'Made in Brazil"', contou Cariello.
Ele não desenha mais para o mercado americano, mas ajuda artistas novos a aperfeiçoar seu trabalho para conseguir entrar no mercado.
Ao longo dos anos, o super-herói mais famoso do mundo, Superman, já foi desenhado por diferentes mãos de artistas brasileiros. Hoje ele faz parte do portfólio de Renato Guedes, 26 anos.
Ivan Reis, que desenha exclusivamente para a DC e hoje está desenhando o Lanterna Verde, contou que a Internet e outras novas tecnologias têm sido de grande ajuda aos artistas brasileiros, na medida em que proporcionam às empresas americanas a garantia de que o trabalho pode ser entregue dentro dos prazos.
"Qual é a diferença para a DC hoje, cujo escritório fica em Nova York, entre trabalhar com um cara em San Diego ou outro no Brasil? Não faz diferença. O que importa é a qualidade", disse Reis.
Greg Tocchini comentou que a distância deixou de ser relevante. Ele deixou São Paulo alguns anos atrás e mudou-se para uma casa isolada às margens de um rio, de onde Thorn Son of Asgard, Capitão America e o Falcon começaram a se transformar.
"Curto uma vista bonita, mas há alguns problemas", contou. "Às vezes a Internet não funciona em casa. De vez em quando tenho problemas com a eletricidade, e o telefone é realmente ruim quando chove por aqui."
Por Renato Andrade