Paris - A maioria das amantes de Pablo Picasso tiveram vidas torturadas e fins trágicos. Marie Therese Walter se enforcou. Jacqueline Roque se suicidou com um tiro no peito. Dora Maar Viveu reclusa e morreu pobre e solitária.
É por isso que surpreende que uma delas, Genevieve Laporte, que tem atualmente 79 anos, tenha sobrevivido a Picasso e desenvolvido uma frutífera carreira no cinema e na literatura.
Pouco depois de completar 24 anos, Genevieve teve uma relação secreta com o artista malaguenho de 70, que a pintou nua, vestida de noiva e usando um suéter de marinheiro, entre outros modelos.
Em 27 de junho, Genevieve leiloará 20 desenhos de Picasso na Galeria Artcurial de Paris, que foram valorizados por especialistas entre US$ 1,8 milhão e US$ 2,4 milhões e que mostram o "lado meigo" do pintor.
"Quero divulgar esta imagem sobre quem era Pablo", disse Genevieve à Associated Press. "Era um indivíduo meigo, respeitoso, inteligente e tímido. Não era o homem abominável das neves que estamos acostumados a escutar".
Levando em conta o destino de outras conquistas amorosas do artista, Laporte disse que terminou a relação com Picasso a tempo, antes que se tornasse prejudicial a ela. Quando deixou o artista, o escritor Jean Cocteau disse-lhe: "Você acabou de salvar-se a vida".
Genevieve conheceu o pintor aos 17 anos, quando o jornal enviou-a para entrevistá-lo. "Senhor Picasso, os jovens não entendem a sua pintura", ela disse-lhe segundo contou na entrevista.
Foi assim que nasceu uma relação insólita: os dois tomavam chocolate juntos e Picasso lhe recomendava livros. Era uma amizade totalmente inocente, pelo menos da parte dela.
Sete anos depois, quando Genevieve havia começado a trabalhar, a jovem visitou de novo o pintor em seu apartamento e foi ali que se consumou a relação amorosa.
Depois do rompimento, Genevieve casou-se com um colega combatente da resistência francesa em 1959 e teve um filho. Ela filmou 18 documentários na África, e em 1999 ganhou um prêmio da prestigiada Academia Francesa por seu volume de poesias "A Porta Sublime dos Sonhos".
Durante várias décadas, Genevieve manteve os desenhos de Picasso em um cofre porque se preocupava com a possibilidade de que fossem roubados.
Agora parece um bom momento para separar-se deles. "Cheguei ao final do meu caminho", declarou.
AP