Três séculos e meio depois de levados para a Europa pelo conde Maurício de Nassau, esta é a primeira vez que os quadros pintados por Albert Eckhout, representando paisagens, frutos, negros, mamelucos e índios, vêm ao Brasil em sua totalidade
O que para os europeus do século 17 foi simples exotismo e curiosidade, para os brasileiros de hoje é uma forma de reconhecimento e pitoresco. Os índios, negros e mestiços, os frutos e a paisagem que podem ser vistos na exposição Albert Eckhout volta ao Brasil, inaugurada no dia 12 deste mês, no Instituto Ricardo Brennand, representam uma integração. Do passado com o presente. Dos brasileiros com os holandeses. Dos invasores com aqueles que, em 1654, os expulsaram. Um amplo reencontro.
Esta é a primeira vez que esses quadros, pertencentes ao setor de etnografia do Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, vêm, na sua totalidade, ao Brasil. Nas mostras anteriores, no Rio, em 1968, e em São Paulo, em 1991 e 1998, só uma pequena parte desse tesouro foi exibida. Depois do Recife, onde ficam até 24 de novembro, as telas serão vistas em Brasília (3 de dezembro de 2002 a 4 de janeiro de 2003) e em São Paulo (13 de janeiro a 16 de março de 2003).
É antigo o interesse brasileiro em rever esses quadros. Pintados sob encomenda do conde Maurício de Nassau, foram levados à Europa quando do retorno dele e presenteados a Frederico III, rei da Dinamarca. No século 19, o imperador D. Pedro II quis trazê-los ao Brasil, mas só conseguiu que fossem feitas seis réplicas, que hoje integram o acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Depois do monarca, diplomatas ilustres como Argeu Guimarães, Joaquim de Sousa-Leão (ambos autores de excelentes estudos a respeito das pinturas) e Hélio Scarabôtolo também se interessaram por mostrá-los na terra que os motivou.
Há três anos, o publicitário Jens Olesen iniciou entendimentos com o Museu Nacional da Dinamarca e os governos do Brasil e de Pernambuco para organizar uma exposição dos 24 óleos. Conseguiu. Para isto, contou com o apoio de diversas autoridades, como o ministro Marcos Vinicios Vilaça e o governador Jarbas Vasconcelos, e de empresas privadas, como a McCann- Erickson e o banco ABN. Uma comissão dinamarquesa veio ao Brasil avaliar os museus que poderiam abrigar a mostra. Em Pernambuco, o escolhido foi o do Instituto Ricardo Brennand. (MH)