Rio de Janeiro - Dois anos após o centenário de nascimento de Pierre Verger, sua obra está cada vez mais viva. No Rio, suas fotos entram no mercado de arte, oferecidas pela Pequena Galeria 18, que abre hoje uma exposição com 66 delas, escolhidas entre os 62 mil negativos da Fundação Pierre Verger de Salvador. Em setembro, outra exposição, com 350 trabalhos, será inaugurada em Berlim e deverá percorrer a Alemanha até meados do ano que vem. Em 2005, será a vez de Paris homenagear o mais baiano de seus filhos, com mostras no Jeu de Paume e no Hotel de Sully. Para 2006, um documentário e uma série de televisão abordarão as principais questões de sua obra e sua análise dos 17 orixás das religiões afro-brasileiras.

 

A mostra do Rio é o ponto de partida dessas homenagens e, segundo o publicitário Mário Cohen, curador da exposição e diretor do documentário, colocará seu trabalho no lugar que Verger merece no mercado de arte. "Ele é mais lembrado por suas viagens, por seus estudos estabelecendo as relações do Brasil e da América Latina com a África. Mas suas fotos, além de serem documentos, têm um cunho artístico, que é explorado nessa mostra", explica Cohen. Ele escolheu as fotos tiradas entre 1946 e 1948, em Salvador e Recife, logo após a chegada de Verger ao Brasil. "O principal critério foi mostrar sua surpresa com a descoberta do novo país, o olhar do apaixonado antes do casamento."

 

O diretor da Fundação Pierre Verger, Gilberto Sá, vai além. Ele explica que as exposições da Alemanha e de Paris foram iniciativas locais. "A Fundação Goethe nos solicitou o material para a mostra que irá a cinco cidades e terá um catálogo, o primeiro em alemão. A de Paris fará parte do ano Brasil-França e também foi iniciativa do Centro de Fotografia, um instituto estatal, mas ainda está em gestação", adianta ele. "Paralelamente, vamos contatar galerias de arte desses países, para que vendam seus trabalhos.

 

Esta é uma divulgação importante de Pierre Verger, uma forma de aproximá-lo do público."

 

Nascido em Paris, em 1902, Verger foi um intelectual burguês até quase os 30 anos, quando começou a viajar, primeiro pela Indochina (atual Vietnã, então colônia francesa), depois África, América Latina e Brasil. Encantou-se com Salvador, onde encontrou uma África ocidental, e passou a estudar como essa troca cultural aconteceu. Sem a fortuna de sua família, fazia fotojornalismo para manter-se e colaborou com os principais veículos da época, como a Paris Photo e a Time Life. Aqui, publicou na revista O Cruzeiro.

 

Os 66 escolhidos foram ampliados para 35 cm x 35 cm e tiveram apenas sete cópias impressas e numeradas, seguindo as normas do mercado de fotografia de arte internacional. Estão presentes retratos, em que os personagens são pegos em absoluta espontaneidade, e outras imagens nas quais são retratados grupos de pessoas.

 

"As primeiras cópias dessas fotos custarão a partir de US$ 2 mil (cerca de R$ 6,2 mil), mas a sétima pode chegar até U$ 3 mil, um preço aquém do mercado internacional, mas suficiente para animar o nacional", explica Cohen. "Como qualquer novo suporte artístico, a fotografia no Brasil ainda precisa de um intermediário entre quem a produz e o público. Isso cabe às galerias de arte e à crítica especializada."

 

A mostra estará na Galeria Pequena 18 até setembro. Mesmo sem patrocínio, Cohen editará um catálogo da exposição, com as 66 fotos, dando início a uma série de publicações sobre fotografia. No ano que vem, ele começa o filme, que terá gravações em Cuba, Benin, Costa Rica, Bahia e Washington, onde brasilianistas vão falar de sua importância. "Não iremos à França, pois nos interessa mais o que ele encontrou pelo mundo e como retratou isso. Verger sempre defendeu duas questões fundamentais, a importância da cultura oral, normalmente desprezada pelas instituições acadêmicas, e a discussão sobre quem domina e quem é dominado culturalmente", explica Cohen. O filme, orçado em R$ 4 milhões, está em fase de captação e busca co-produção estrangeira.

 

 

Beatriz Coelho Silva