São Paulo - Quanto custa a sedução? Será que vale o sacrifício de espremer as costelas em espartilhos? Ou esmagar os seios para conquistar o visual longilíneo das melindrosas? Quem sabe tenha o mesmo valor das toneladas de silicone aplicadas pelas brasileiras? A resposta está, a partir de hoje, nos três pisos do Itaú Cultural, onde será aberta a exposição O Preço da Sedução - Do Espartilho ao Silicone. Ali, em cerca de 130 obras de artistas brasileiros, mais fotografias, figurinos, peças publicitárias e trechos de filmes, é possível descobrir que a mulherada vem penando há anos para se adequar a um ideal de beleza.
Visitar a mostra é descobrir quem eram e como viviam as mulheres desde a segunda metade do século 19. "Foi folheando revistas de época que me veio a idéia desta exposição", conta a curadora Denise Mattar. Diante de anúncios publicitários que desde sempre pregaram a ditadura da beleza, com padrões irreais difíceis de alcançar, ela constatou que as mulheres pagam um preço alto por seu poder de sedução. Mas avisa: em nenhum momento, as mulheres são tratadas como "vítimas". "Elas são coniventes, são agentes que se utilizam da beleza como uma forma de poder, mas a sedução custa caro. E é desse preço que estamos falando", explica.
Dividida em oito núcleos, a exposição é um retrato da sociedade de cada um dos períodos históricos apresentados. O marco inicial são as damas do século 19, "espartilhadas", com suas cinturinhas de vespa, comportadas nas telas, nas roupas, nos objetos, e anúncios selecionados por Denise. A estética e padrões de comportamento estão ainda nos trechos de filmes exibidos em cada espaço, como E o Vento Levou..., mostrado nesta fase. A mostra segue a cronologia da moda e do mundo com os anos 20 e os vestidos de cintura baixa, os "achatadores de seios", as bandagens para martirizar as curvas. Neste período, destaque para a exibição do óleo Mulher sentada com ramo de flores (1927) de Ismael Nery. Avança para os anos após a Grande Depressão, com todo o glamour de Hollywood ditando as regras. Após a Segunda Guerra, é hora de as mulheres voltarem para o lar, e os anos 50 assistem ao "renascimento" das donas de casa e da mulher sedutora com cinturas novamente marcadas, saias rodadas, sutiãs com enchimento.
Os anos 60 e 70 mostram a revolução no comportamento feminino. Minissaias, unhas postiças, cílios em camadas formam o arsenal de sedução. O visual hippie que se seguiu deu mais liberdade no vestir, mas a magreza continua essencial. Os anos 80 e 90 assistiram ao nascimento do culto ao corpo, em que não bastava ser bonito. Tinha de ser perfeito. E já que a perfeição não é um ideal fácil, a realidade apresenta suas armas: botox, silicone e todo o arsenal de produtos para driblar o tempo, como se fosse possível driblar o tempo. A ironia da curadora também se revela na mostra, com a apresentação, ao final, de dois peitinhos de silicone. E o filme de referência é, na verdade, o videogame de Lara Croft, que representa a inversão de valores absoluta, quando o perfeito é criado em computador, para depois ser transportado para as telas como uma personagem de carne e osso. Desde que a carne seja, claro, a da maravilhosa Angelina Jolie. Alguém aí falou em perfeição?
Deborah Bresser