Exposição no Rio é aberta hoje ao público, com obras de 110 artistas. O ministro Gil visitou ontem a mostra e ficou impressionado com o estado de conservação do bloco-escola do conjunto do MAM
Rio - As novas aquisições da Coleção de Gilberto Chateaubriand, uma das maiores do País em arte moderna e contemporânea, com 6.000 peças, serão mostradas a partir de hoje, no Museu de Arte Moderna do Rio. A exposição reúne obras de 110 artistas, a maioria vivos e boa parte desconhecida do grande público, que ele comprou nos últimos 18 meses em suas muitas viagens pelo País. "Meu vício é visitar galerias e museus, mas hoje é difícil descobrir gente nova porque os marchands têm olheiros que chegam antes. É como no futebol", diz o colecionador. "Meu grande prazer é compartilhar o usufruto dessas obras com o público."
A coleção acaba de completar 50 anos. Seu primeiro quadro foi uma marina que ganhou de José Pancetti, em 1953, e desde então ele adquiriu obras de praticamente todos os artistas nacionais e muitas de estrangeiros consagrados. Filho de Assis Chateaubriand, magnata da imprensa brasileira, que trouxe a televisão para o Brasil e fundou o Museu de Arte de São Paulo (Masp), Gilberto, no entanto, não atribui essa paixão pela arte à influência do pai. "Tínhamos gostos completamente diferentes, eu sempre preferi os modernos e recebi orientação de alguns deles como Antônio Bandeira, meu grande amigo, e Scliar, para iniciar a coleção", conta ele. "Hoje, esses artistas têm preços astronômicos, impraticáveis."
Nessa mostra, há muitas fotografias, assemblages, objetos, esculturas e maquetes, que estarão espalhados pelo andar superior do MAM, guardião da coleção desde 1993, em regime de comodato. As dimensões variam do tamanho médio, como o Cristo Redentor com a favela carioca aos pés, de Antônio Poteiro, ao exagerado, como o enorme carretel de aço de Rubem Mano, e o diminuto, como a série de desenhos da mineira Roselane Pessoa, em nanquim sobre cartolina preta. A surpresa mais recente merece um bloco da exposição. São artistas de Goiás, visitado há pouco por Gilberto Chateaubriand. De lá, ele trouxe quadros, colagens, esculturas e objetos, que comprou nos quatro dias que passou no Estado. O curador da mostra e do MAM, Fernando Cochiarale, conta que foi difícil escolher as 216 obras, entre 340 adquiridas recentemente pelo colecionador, numa média de quase 30 por mês. "O MAM está ficando pequeno para a coleção. O critério foi incluir todos os artistas e o mais significativo de cada um", explica o curador. "Aqui temos um belo resumo da produção de arte contemporânea brasileira", afirma. "Um modesto resumo", corrige Chateaubriand.
Goteiras - O ministro da Cultura, Gilberto Gil, ficou encantado ontem com as novas aquisições da coleção. em visita ao MAM. E ficou impressionado com o estado do bloco-escola, um dos prédios que compõem o conjunto projetado por Affonso Reidy. Ele encontrou o teto desabando, latas de filme espalhadas pelo corredor e baldes de plástico para recolher a água das goteiras. Apesar do quadro precário, Gil não prometeu nada. "Esta situação se repete nos museus brasileiros, com raras exceções. Há sempre problemas nas estruturas, nos telhados...", disse. A direção do MAM entregou ao ministro um projeto de reforma, orçado em R$ 2,2 milhões, que prevê investir R$ 1,7 milhão no bloco-escola, onde ficam a biblioteca, o centro de documentação e o que restou do acervo de filmes (a maior parte foi para a Cinemateca Brasileira e para o Arquivo Nacional). O restante vai para reparos nos outros prédios, o de exposições e o Galpão das Artes.
Beatriz Coelho Silva