A Deic (Delegacia Estadual de Investigações Criminais) de Goiás prendeu o irmão e o sobrinho do artista plástico Siron Franco. Eles são acusados de furtar e falsificar dezenas as obras do artista, comercializadas principalmente em Brasília. A Polícia Federal tenta agora rastrear as obras pelo país.

 

Darci França Franco, 58, e seu filho Darci França Franco Júnior, 34, foram detidos preventivamente ontem, com base na determinação do juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da Vara Criminal de Goiânia. Ambos foram encaminhados ao Centro de Prisão Provisória hoje.

 

Outro sobrinho de Siron Franco e um quarto envolvido no caso também tiveram o pedido de prisão decretado e estão foragidos.

 

Segundo o delegado Jerônimo Borges, responsável pelo caso, os quatro foram indiciados por furto, estelionato e formação de quadrilha. Borges afirmou ainda que os dois presos chegaram a ser surpreendidos tentando coagir vítimas por telefone, já na delegacia.

 

"Eles [os dois presos] roubavam, falsificavam e vendiam as obras. Encontramos falsificações vendidas por Darci Franco e por seu filho. O outro sobrinho roubava dos ateliês em Goiânia e em Aparecida de Goiânia", disse o delegado.

 

O inquérito policial foi concluído e remetido para a Justiça hoje. O caso estava sendo investigado desde 2002 e, segundo Borges, demorou para ser apurado porque as obras falsificadas que foram descobertas precisaram ser periciadas. A polícia não soube precisar o número de obras negociadas pelo grupo.

 

De acordo com Siron Franco, pelo menos quatro foram falsificadas e outras dezenas foram furtadas, entre elas, mais de 80 cerâmicas, 20 pinturas grandes e 125 guaches. O preço cobrado estaria em torno de R$ 6.000.

 

"As falsificações não me preocupam porque são grosseiras e nunca seriam aceitas por galerias renomadas. Eles vendem para quem não tem tanto conhecimento de arte. O problema são as obras roubadas. Não me interessa o valor comercial delas, são importantes porque iriam para a fundação que pretendia construir em Goiânia", disse o artista.

 

Franco disse que sempre soube da participação do irmão nos roubos, mas só suspeitou do sobrinho, que chegou a trabalhar com ele, recentemente. Ele informou que o grupo invadiu oito vezes os seus ateliês nos últimos três anos, driblando sistemas de segurança, além de ameaçá-lo por telefone.

 

"Nunca tive nenhuma relação com meu irmão. De 13 irmãos, ele é o único que é desonesto. Ele responde a 16 processos criminais em São Paulo e roubou o meu primeiro quadro premiado, em 1968", afirmou Franco.

 

O advogado dos acusados não foi localizado hoje pela reportagem. Segundo a polícia, os dois detidos negaram as acusações em depoimento.

 

Temática social

 

Nascido na cidade de Goiás em 26 de julho de 1947, Gessiron Alves Franco, o Siron Franco, mudou-se para Goiânia em 1950. Dez anos mais tarde, começou a estudar pintura e a fazer parte do circuito cultural.

 

Franco recebeu seu primeiro prêmio em 1963, ainda em Goiânia. Em 1975, participou da 13ª Bienal Internacional de São Paulo, onde ganhou o prêmio internacional de pintura. A partir daí, começou a expor no exterior, onde hoje tem o talento reconhecido. O artista chegou a morar na Europa na década de 70.

 

Suas obras priorizam a temática social. Inspirado no acidente com a cápsula radiativa de césio 137, Siron Franco criou uma série intitulada "Césio", em que retratava o descaso das autoridades com as vítimas.

 

Os povos indígenas também foram tema de um memorial do artista, assim como a devastação da natureza e a matança de animais. Em 2002, retratou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em duas telas.

 

Franco também assinou as séries expostas na reabertura do prédio do Dops e do Carandiru, há dois anos.

 

ADRIANA CHAVES

da Agência Folha