Mostra 'Invenção radical', em Chicago, traz trabalhos de 1913-1917.

Período coincide com momento em que artista passou a pensar as formas.

Da Reuters

 

Sua carreira artística abrangeu seis décadas, mas os curadores da exposição "Henri Matisse: invenção radical" optaram por concentrar-se nos anos entre 1913 e 1917, quando o pintor criou o que ele próprio descreveu como seus "quadros mais importantes."

 

"É um momento surpreendente quando Matisse, o mestre da cor, modera a cor e presta atenção às formas," disse Stephanie D'Alessandro, curadora do Instituto de Arte de Chicago.

 

'Banhistas na margem de um rio', considerada pelo próprio Henri Matisse como uma de suas obras fundamentais (Foto: Reuters)

 

"Invenção radical" será mostrada em apenas dois lugares: até 20 de junho no Instituto de Arte de Chicago e de 18 de julho a 11 de outubro no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York.

 

A exposição é menor que outras grandes mostras do passado recente. Mas seus 117 desenhos, pinturas, gravuras e esculturas tirados de museus e coleções particulares em todo o planeta emocionaram os primeiros visitantes em Chicago.

 

A maior atração é a tela monumental "Banhistas na margem de um Rio," do próprio Instituto de Arte de Chicago, que Matisse afirmou uma vez ser sua tela mais importante e que ele aperfeiçoou várias vezes.

 

Vestígios de Picasso

Nos últimos quatro anos, os curadores usaram raios-X e outras técnicas para examinar a pintura subjacente da tela, vendo como ela evoluiu de uma cena naturalista para uma obra cubista que lembra mais "Les Demoiselles d'Avignon" (1907), de Picasso, com menos influência de Cezanne, que Matisse tanto admirava.

 

Para o curador do MoMA, John Elderfield, Matisse era "um artista polêmico e plenamente estabelecido" em 1913, quando começou a pintar "Banhistas."

 

Até então, Matisse era conhecido pelas cores explosivas que empregara como artista fauvista, fase que antecedeu suas epifanias com a abstração cubista.

 

"A aclamação que os cubistas vinham recebendo o irritava. Ele conseguiu deixar esse sentimento de lado e reconheceu que o cubismo era algo que precisava encarar," disse Elderfield.

 

'Retrato de Yvonne Landsberg', de Matisse (Foto: Reuters)

 

Entre a pintura e a escultura

Mas Matisse não negou tudo o que fizera antes quando cedeu ao cubismo. Azuis e vermelhos fortes explodem em "Flores e Prato de Cerâmica," de 1913, no qual o prato flutua como uma lua verde azulada sobre flores que se derramam de um vaso.

 

Ele usou o verso de seu pincel para marcar suas telas, raspando arcos brancos em "Retrato de Yvonne Landsberg," conferindo um aspecto ligeiramente ameaçador ao tema da tela.

 

Os temas de algumas das telas seriam irreconhecíveis não fossem os títulos, como "Raio de luz do sol nos Bosques de Trivaux."

 

Enquanto os temas se estreitavam, disse D'Alessandro, suas telas pareciam se expandir.

 

 

Como Picasso, Matisse era capaz de definir a beleza com uma única linha desenhada, como é visto em vários desenhos e gravuras na exposição.

 

Ao mesmo tempo ele retrabalhava telas como "Retrato de Olga Merson," acrescentando camadas sucessivas de tinta para criar perspectiva.

 

Matisse se movimentava entre a pintura e a escultura - isso o relaxava.

 

A nova análise de "Banhistas na margem de um Rio" - que, quando o museu o adquiriu, em 1953, um ano antes da morte de Matisse, o artista disse ser uma de suas cinco telas mais importantes - levanta a questão de se analisar o processo do artista de alguma maneira minimiza o resultado final.

 

Por que não examinar apenas a própria tela? Por exemplo, será que alguém é capaz de interpretar a razão de uma cauda (de diabo?) emergir da parte inferior central da tela?