Fernando Durão Construções - Pinturas e Objetos
Fernando Durão, ao lado de importantes artistas contemporâneos, vem traçando um percurso constante na arte geométrica, destacando-se no cenário de arte brasileira e internacional.
Por Luciano Marzocca
“Sou um artista que desde muito jovem, tive uma forte atração pelos movimentos concretistas, linguagem que chegou ao meu conhecimento inicialmente pela literatura e felizmente, também pelo contato pessoal com os grandes mestres da arte geométrica. Muitos deles se tornaram especiais amigos por convívio, por admiração e respeito; e principalmente por afinidade de pensamento. Mestres como Lothar Charoux, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Luis Saciloto, Odetto Guersoni e também os abstracionistas como Tomie Othake e Arcangelo Ianelli enriqueceram minha obra com suas observações e opiniões. Estes artistas influenciaram, influenciam e deixarei que continuem influenciando meus pensamentos visuais na hora de criar”, define-se Durão.
Fernado Durão nasceu em 1952 na cidade do Porto, Portugal, onde estudou Belas Artes na Escola de Belas Artes Soares dos Reis. Veio para o Brasil, Rio de Janeiro, em 1969 com seus irmãos e sua mãe brasileira, devido a guerra colonial com Angola. Conviveu e trabalhou em atelieres com jovens artistas de sua geração, escolhendo em 1971 São Paulo para montar seu atelier. Suas obras, apesar de figurativas expressionistas, já apresentavam traços visivelmente geométricos.
Em 1976, o artista rompeu definitivamente com a linguagem figurativista ao exibir na Bienal Nacional de São Paulo, seis telas de grande formato, totalmente geométricas, as quais chamou de “cromocosmologia”, mas foi em 1979 com sua exposição individual no MASP (Museu de Arte de São Paulo), a convite pessoal do Prof. Pietro Maria Bardi, que sua obra o consagrou e o artista passou a ocupar um lugar de destaque entre os novos geométricos.
Espaço para Pensar
O caminho da geometria sempre foi trilhado, mas as técnicas foram diferenciadas. As sensações e emoções são transmitidas pelos elementos pictóricos. Seu estilo próprio é impregnado em toda obra, quer sejam pinturas, objetos ou fotografias. Na parte pictórica, as obras mexem com a parte emocional do observador. Este resultado é obtido através da técnica, forma e cor. São obras que não buscam contar uma história. Seu valor é por si mesmas; o pensamento em si mesmo. Nos objetos, trabalhos mais recentes, há a liberdade do uso de novos materiais na construção dos mesmos. O conteúdo é o peso fundamental, levando a conceitos geométricos na construção de pensamentos estruturados, tanto para o artista quanto para o observador. O artista e o observador têm caminhos abertos, interessantes para novas interpretações.
As obras de Fernando Durão não são fechadas em suas idéias. Um traço em equilíbrio pode significar várias coisas, dependendo do período em que se apresenta. A intenção real é que não se explique nada, não há imposição de idéias. É uma provocação a reações óticas à emoção. “Até mesmo um título limitaria a realidade de interpretações. Mesmo nos trabalhos figurativos, as imagens são construídas geometricamente. A figura surge como forma, como objeto de composição”, detalha o artista.
O artista visual atua também em fotografia, nos mesmos princípios de disciplina de desenho, independente da matéria, suporte ou técnica. Fernando Durão é um artista de linguagem geométrica. O melhor é sempre o próximo, explorando o conteúdo, ilimitado ao suporte.
A Exposição
Com o tema “Construções Fernando Durão”, o Cultural Blue Life abriu as portas para o artista, numa mostra individual. Com mais de 35 anos de intensa e cuidadosa carreira, o artista estará mostrando ao público, pinturas e objetos criados nos últimos vinte anos, selecionados para esta exposição.
“Chamo de construções minha atual ‘fase’, resultado de uma vivência anterior com minha obra que, em determinados momentos, surge fragmentada em trabalhos denominados por mim de temáticos.
Estes trabalhos estão agora reunidos num só conjunto, compondo um pensamento único, unitário e consciente na construção da forma, da cor, do objeto; na construção de relações com a humanidade; na construção do olhar para o mundo cotidiano no qual eu vivo; na construção de signos e códigos estéticos e visuais rigorosamente comprometidos pela geometria que, mesmo quando reaparece a figura, ela é tratada como forma visual e composta geometricamente”, explica Durão. Esta mostra é uma revisão em um percurso nos últimos vinte anos. Foram selecionadas obras com forte diálogo entre si, independente do ano ou período em que foram produzidas. O conceito da mostra é essa linguagem. Uma obra pensada em 1970, muitas vezes, tem mais diálogo com uma do ano 2000 do que com outra da mesma época. “Foi uma descoberta e essa descoberta foi o que trouxe a necessidade da mostra”. O que muito agrada Durão é que são obras vistas por pessoas diferentes em época diferentes.
Com curadoria de Lilian Heitor e apresentação em catálogo da crítica de arte e presidente da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte), Elvira Vernaschi, o Cultural Blue Life mostra 18 obras selecionadas entre pinturas e objetos, produzidas entre 1986 a 2006 deste artista que tem em seu currículo dezenas de exposições individuais e coletivas, no Brasil e exterior, sempre fiel e num constante crescimento na linguagem geométrica. ♦
Emoção Controlada
Estamos tendo a oportunidade, este ano, de ver e rever a produção dos últimos 20 anos de um artista que se mantém fiel a princípios de rigorosa construção de sua obra, Fernando Durão. São pinturas de 1986 a 2006 que traçam o percurso fértil de um dos artistas mais sensíveis de sua geração.
Ao deixar, em meados dos anos 1970, uma vertente figurativo-expressionista, Fernando Durão já encarava em sua composição aspectos concretos. O abandono das cores vibrantes em prol de algo mais racional vem de sua vivência e convivência com artistas importantes nessa vertente da arte brasileira. São seus amigos e exemplos, Lothar Charoux, Fiaminghi, Barsotti, Saciloto e Odetto Guersoni, de quem não nega as influências.
Mas, e como não podia deixar de ser, mesmo por sua postura profissional e de vida, ele constrói uma obra própria, embasado em expor suas emoções e ao mesmo tempo controlá-las através da dimensionalização racional do espaço. Como ele consegue isso? A resposta está na série de pinturas e objetos que ora expõe ao público e à crítica.
Nas obras dos anos 1980 notamos sua preocupação em enfatizar o formal através de construções que privilegiam as linhas, retas ou quebradas, que desenham as formas e dirigem nosso olhar, porque as cores, aqui, são suas coadjuvantes. Aos poucos, no entanto, vai se libertando desse engessamento e sua preocupação se volta para um construtivismo no qual a adição de volume, luz e cor são a tônica. As formas adquirem movimentos piramidais, o que nos reporta também ao lúdico: ele brinca com nosso olhar e nossa imaginação. Formas se unem no espaço. Inventa texturas de cores, através de pinceladas ou com materiais que lhe possibilitem aproveitar ao máximo essas características. Constrói módulos, com brancos, pretos e azuis, que se montam ou remontam ao critério de cada um e objetos/totens, com movimentos que se deslocam ao infinito e construções de cores que mexem com nossa percepção de espaço e nos oferece a possibilidade de enxergarmos seu mundo. Durão é um construtor de emoções.
Elvira Vernaschi
Historiadora , Crítica de Arte
Presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte
Novembro/2006