São Paulo - Fazer arte pública numa cidade como São Paulo é um enorme desafio, mas nem por isso deixamos de ter interessantes iniciativas do gênero. Nos próximos dias duas ações estarão ocorrendo simultaneamente na cidade: a ação Eu, Tu... Eles, da artista Vera de Albuquerque (e que integra o projeto Museu Aberto, coordenado por Lilian Amaral) e a ousada ação Recortes Urbanos, realizada por Waldo Bravo em 10 outdoors localizados em importantes avenidas.
Enquanto o trabalho de Vera (que poderá ser visto hoje e amanhã no Parque do Ibirapuera) e entre os dias 29 de maio e 2 de junho no Sesc Vila Mariana) provoca o transeunte, desloca-o do papel passivo e transforma-o no centro da obra - ao entrar no cubo, ele não apenas vê sua imagem refletida por todo o espaço, como interage de maneira bastante instigante com os outros "habitantes" dessa célula espelhada -, Waldo Bravo age de forma perturbadora e sutil em Recortes Urbanos.
Não há nada de sua autoria, nenhuma expressão artística individual nesses painéis, e sim imagens do que se veria se eles não estivessem ali. A sensação que se tem ao ver as imagens do catálogo (os outdoors só serão colocados amanhã, em locais como as avenidas Rebouças, Jabaquara e Vicente Rao) é que em vez de acrescentar, ele apaga. O processo é complexo e exigiu o uso de sofisticadas técnicas. Interfere na paisagem urbana, limpando-a, devolvendo um certo equilíbrio e nos lembrando de que nem todas as possibilidades foram esgotadas nessa estranha, poluída e fragmentada cidade.
Maria Hirszman