RIO - A pintora mexicana Frida Kahlo, cujo aniversário de morte completa 50 anos nesta terça-feira, está mais viva do que nunca, tendo se transformado em mito e na artista mais cotada da América Latina. Além de uma nova biografia da artista, sua sobrinha - que viveu parte da infância e adolescência com a tia - também lança uma linha de peças de moda, com óculos de sol, jóias e chales esta semana.

 

Isolda Kahlo vai lançar o livro "Frida íntima", que pretende ser a versão familiar da vida da artista que, junto com Rivera, deu abrigo a Leon Trotsky quando este era perseguido e que, supostamente, teve um caso extraconjugal com ele. Outra das grandes tragédias de Kahlo, que ela também imortalizou numa tela, foi o fato de ter abortado e não ter tido filhos, apesar de ter estado casada durante 25 anos com Rivera, considerado o artista mais importante da história do México.

 

Nos últimos meses vêm se multiplicando, dentro e fora do México, as homenagens à artista de sobrancelhas espessas e roupas folclóricas, cuja vida foi marcada por sofrimentos físicos, pelo casamento com o célebre muralista Diego Rivera e por sua militância comunista.

 

As homenagens, que vão aumentar nos próximos dias, incluem exposições de suas obras - entre as quais se destacam seus dramáticos auto-retratos -, as típicas oferendas a mortos mexicanos e, pela primeira vez, uma biografia escrita por sua família paterna.

 

Além disso, serão lançados óculos de sol, linha de jóias, chales e bustos que reproduzem a imagem da famosa pintora mexicana. São os primeiros produtos da nova marca Frida Kahlo, que será lançada esta semana, no México.

 

A marca e o nome de Frida foram registrados por sua sobrinha, que queria criar um selo em tributo aos 50 anos de morte da pintora. Parte da família não concorda.

 

'Fridomania' começou só 25 depois de sua morte

 

Entretanto, mesmo sem as homenagens pelo 50º aniversário de sua morte - que ocorreu em 1954, por pneumonia, quando Kahlo tinha apenas 47 anos -, a Casa Azul, onde a artista nasceu e morreu e que virou museu, é ponto de atração tanto para os habitantes da Cidade do México como para os turistas estrangeiros.

 

Na realidade, porém, a chamada "Fridomania" começou há apenas 25 anos. Depois que Kahlo já foi tema de livros e filmes, tornando-se um ícone tão popular quanto Che Guevara, é difícil imaginar que, por 25 anos após sua morte na Cidade do México, seu nome tenha caído no esquecimento. Tanto assim que se supunha que ela tivesse pintado apenas três ou quatro quadros, dos 200 que se conhecem hoje.

 

Martha Zamora, sua biógrafa, disse em entrevista à Reuters que, devido a sua militância de esquerda, a cultura oficial do México condenou Kahlo a uma espécie de "morte civil" desde 13 de julho de 1954, quando, em seu enterro, seu caixão foi coberto com a bandeira do Partido Comunista, enquanto os presentes cantavam a Internacional.

 

- Frida ressurgiu a partir dos anos 1970, com o movimento feminista, que quis fazer dela sua representante nas artes. Uma jornalista de Los Angeles veio entrevistá-la e descobriu que ela morrera 25 anos antes - contou Zamora.

 

Kahlo, que teria amado homens e mulheres, mesmo estando casada com Rivera - que também lhe foi infiel -, carregava desde criança as sequelas de uma poliomielite que a fazia mancar. Mais tarde ela ainda sofreu um acidente de ônibus que a deixou imobilizada por muito tempo. Foi justamente nessa fase que começou sua paixão pela pintura.

 

A partir da iniciativa das feministas, em 1979, foi inaugurada a primeira retrospectiva da obra de Frida Kahlo no Museu de Arte Moderna da capital mexicana, segundo Zamora.

 

A partir daí, sua fama foi crescendo e Kahlo se transformou na pintora mais bem cotada da história.

 

O mérito de Frida Kahlo, segundo Zamora, foi também o de ter se dedicado à pintura autobiográfica e de tê-lo feito na tela, numa época em que o que estava na moda era o muralismo.

 

- E ela abriu caminho sozinha, apesar de ser casada com o pintor mais famoso de sua é poca. Ela poderia ter secado à sombra de uma árvore dessa natureza - disse a biógrafa.

 

Globo Online

Reuters