Tenho andado em busca da Arte, como se encontrasse ali, um caminho certo e definitivo para a minha vida, mas sempre me perco por muitas trilhas, com a sensação de que todas me seduzem, sem encontrar, contudo, a senda perfeita para as minhas aspirações.

muito, que a pedra me fascinava, talvez, porque seja dura e difícil trabalhar com ela. Por outro lado, sempre encontrei caminhos árduos a trilhar, pois nunca me foi fácil percorrer as estradas da vida, tão cheia de pedregulhos e, confesso até, que sinto um certo prazer em vencer etapas, que aos outros parecem intransponíveis e desagradáveis.

Assim, foi o meu encontro, não com a pedra ,mas com um bloco de cimento celular, escolhido para início do conhecimento da escultura.

Então, comecei a examinar, atentamente, aquele bloco que me foi posto à frente.

Examinei detalhes, falhas, texturas, sua aparente dureza, acariciei-a para sentir seu calor...O que faria com aquele frio bloco celular ? Onde estaria seu coração ?

Não sabia como começar, mas tinha certeza, que ali esculpiria uma figura humana. Percorri meu caderno de exercícios de desenhos, onde esboçara os modelos vivos e escolhi um , para dar início ao trabalho.

Peguei as ferramentas, que eram compostas de limas, formões, furadeiras manuais, lixas etc. e me pus a esculpir a primeira figura .De início, desajeitada, mas, logo pegando firmeza no uso dos instrumentos.

Fui cavando, burilando, como se burila um sonho... às vezes, sutil, delicada, fantasiosa, outras, com mais vigor, com maior audácia.

O suor escorrendo pela minha face, entrando acre pela minha boca. Olhos fixos no bloco, óculos embaçados pela poeira e, de repente, sentí que não seguia mais o esquema que havia traçado, passei a esculpir e abrir túneis, como se abrisse passagens para a alma. Passagens para uma visão de cor e luz, que me deslumbrasse, que me fizesse voar e sonhar...

Esculpí gente, pássaros , alguns que eu nunca havia visto. De repente, alí surgiu, dos cortes e recortes, um animal que é consagrado na India... Por que ? mas, foi só um leve detalhe porque ele se perdeu entre as figuras que o cercavam, pois asas de pássaros e peixes insistiam em se alojar naquele bloco, preso entre as minhas mãos.

Fui virando cada lado , já não era umaescultura, mas muitas, numa só peça.. Quis trabalhar as imagens que me ocorriam, dos túneis que eu havia cavado para dar sombras e luzes às figuras buriladas. De repente, me transpus para Firenze, recordando uma porta do século XIV que abria para uma escada centenária que me levava ao alojamento com mais 5 colegas artistas.

Mas, a porta que esculpí, saiu tortuosa, como quando a gente divaga e perde o rumo da realidade. Assim , banhada em suor, com as mãos já cansadas, concluí meu primeiro trabalho de escultura, que alí está, imperfeito ,mas , pleno de vida e de sonhos, a desafiar os olhares críticos ou indiferentes daqueles que não têm olhos, nem sensibilidade para o entendimento do que existe na criação de um artista.

Sei que, agora, vou em busca da pedra, a mais dura, talvez o mármore, o basalto, o granito, sei lá... Mas quero descobrir o veio da vida, que existe em cada pedra, em cada alma, por mais empedernida que possa ser.

Vou em busca do impossível, talvez, mas vou....