A arte educação está passando por uma profunda revisão desde 1970, quando Dr. Roger Sperry, então no CalTech, publicou os resultados de suas pesquisas sobre lateralidade cerebral.

Sperry demonstrou que o hemisfério esquerdo é o dominante e que possui atributos completamente diferentes do hemisfério direito. Na realidade, os atributos de um hemisfério complementam os atributos do outro. Isso quer dizer que os dois hemisférios processam informações, recebidas pelos sentidos, de maneira totalmente diferenciada, ou seja, o lado esquerdo pensa de maneira diferente do lado direito.

Quando esses dados são analisados, em termos da educação, percebe-se que a nossa educação tradicional privilegia o desenvolvimento dos atributos do hemisfério esquerdo, porque dá ênfase ao desenvolvimento da lógica, do raciocínio, da abstração e das linguagens verbais e digitais (matemática).

Howard Gardner, diretor do Project Zero da Universidade de Harvard, usou esses dados para desenvolver a Teoria das Múltiplas Inteligências. Essa teoria contesta o conceito que a inteligência se limita ao Q.I. (quociente de inteligência), porque o Q.I. mede inteligências associadas aos atributos do hemisfério esquerdo. Gardner classificou outras cinco inteligências: visual-espacial, musical, corporal, inter-pessoal e intra-pessoal. As duas últimas compreendem o que Daniel Goleman batizou de Inteligência Emocional.
Essas inteligências são basicamente associadas aos atributos do hemisfério direito do cérebro, mas quase não são estimuladas pela educação formal ocidental, porque as disciplinas que melhor as desenvolvem, a arte educação e o esporte, são marginalizadas.
O desenho é a disciplina que melhor trabalha os atributos do hemisfério direito: o pensamento analógico, holístico, sintético e concreto. Portanto deveria ganha um lugar de destaque no currículo escolar.

No entanto, a maneira que o desenho é trabalhado precisa ser modificado para que se obtenha os resultados desejados.

Nas academias européias, que foram os modelos de educação artística no Ocidente até meados do século XX, entendia-se que "desenho" era o ato de desenhar por observação e que era desejável obter uma representação realista. Essa maneira rígida de abordar o desenho prejudica a criatividade e expressão e foi muito contestada por educadores.

No Bauhaus, uma escola de arte alemã, fundada na década de 1920, artistas ligados ao modernismo, desenvolveram métodos muito mais livres, baseados na investigação, na descoberta e na expressividade, com o intuito de estimular a criatividade. O "desenho" era visto como um ato de expressão, usando linhas, pontos, cores e materiais diversos.

O equívoco de ambas escolas foi confundir "desenho" com o ato de desenhar. Desenho é uma linguagem - a linguagem visual. Ensinar o desenho significa ensinar como funcionam os elementos visuais, por exemplo, composição, perspectiva, cor e luz. Esses elementos são os fundamentos da linguagem visual e estão presentes em todas as imagens bi ou tridimensionais.

A melhor maneira de ensinar os fundamentos é através do desenho de observação, mas é imprescindível diferenciar entre fundamentos e regras. Também é importante que a ênfase seja no desenvolvimento da percepção visual e dos processos de pensamento e não na obtenção de um objeto desenho "bonito", para não reverter-se ao academicismo.

Trabalhando dessa maneira, o ensino do desenho estimulará os atributos do hemisfério direito do cérebro e "alfabetizará" o aluno visualmente. Também estrutura o aluno para que possa se expressar melhor, como queria o Bauhaus.

Finalmente, ao desenhar por observação, o aluno é obrigado a fazer escolhas, desde a escolha do próprio assunto, até o tamanho da imagem e a maneira de interpretar. Isso desenvolve a capacidade crítica e reflexiva do aluno. Por exemplo, se um grupo de alunos são levados ao pátio da escola para desenhar, a primeira pergunta que cada um fará é, "O que vou desenhar?" A resposta a essa pergunta é, "O que você quiser." Isso faz com que o aluno se pergunte o que quer, o que o atrai e o que o interessa, um processo crítico e reflexivo.

São questões de vital importância para a formação de uma pessoa.

Portanto, acho que o desenho, trabalhado corretamente, tem o potencial de desenvolver capacidades e habilidades e, de maior importância, é um dos mais ricos instrumentos educacionais na formação de uma pessoa.