Ana Cecilia Martins RIO - Depois de sete anos e 91 edições, a revista Veredas, patrocinada pelo Banco do Brasil e vinculada ao Centro Cultural Banco do Brasil, chega ao fim de seu caminho. Espaço nobre para a circulação de idéias e reflexões em torno da cultura, a publicação foi extinta por determinação do departamento de marketing e comunicação do BB. A justificativa: reavaliação de investimentos depois de um corte de 10% no orçamento do setor.
A contenção de despesas atingiu todo o orçamento do banco este ano. "Sabemos que a Veredas contribuiu para a cultura do país, mas vamos continuar contribuindo de outras maneiras," afirma Carlos Alberto Carvalho, assessor de imprensa do banco. Segundo Carlos Alberto, uma das razões que levaram ao fim da revista foi o surgimento de publicações como a Bravo! e a Cult. "Acreditamos que o mercado nessa área já está suprido," diz ele, de Brasília."A Veredas era uma revista formadora de opinião que conceituava as ações culturais do CCBB e ia além, abrigando discussões e pensamentos de maneira livre.
Esta é uma maneira de produzir cultura,"avalia a jornalista Valéria Lamego, responsável pela edição da revista desde outubro de 1998. Para a editora, o fim da revista atesta o pouco valor dado à cultura escrita no país. " Acredito que o marketing do banco não conseguiu perceber a importância de uma revista como a Veredas para catalizar as ações de seus centros de cultura," diz Valéria, sublinhando que todos os grandes núcleos culturais do mundo, tais como o Georges Pompidou, em Paris, e a Tate Modern, em Londres, mantêm publicações do gênero.
O baixo volume de anúncios e os poucos assinantes espontâneos, que totalizavam mil, são outros fatores sublinhados pelo BB. "O banco, como empresa, precisa reavaliar seus negócios. A verba investida é própria e não incentivada," afirma Carlos Alberto, acentuando que investimentos culturais do BB estão hoje concentrados no novo centro cultural que será aberto em Recife, em 2004, e na ampliação do CCBB de Brasília. Cada número da Veredas custava R$ 55 mil. O assessor não pôde informar, no entanto, se o Banco do Brasil fez cortes em outras áreas, como o esporte. Segundo o BB, o site na internet, os folders e os catálogos dos eventos podem suprir o papel da revista, que tinha o preço acessível de R$ 3, mais em conta que qualquer catálogo.
A Veredas deixa muitos órfãos, entre eles o poeta Ferreira Gullar, que em depoimento à revista para a edição comemorativa de seus sete anos declarou: "Leio Veredas desde o primeiro número com o mesmo interesse. Ela me informa sobre a vida cultural do Rio e me ajuda a refletir sobre questões da arte."