ivald c8a70O artista multimídia Ivald Granato - Hudson Pontes / Agência O Globo

RIO — O artista plástico Ivald Granato, de 66 anos, morreu na manhã deste domingo, em São Paulo. Pioneiro na arte performática, ele sofreu um infarte fulminante enquanto dormia, após passar o dia indisposto. O enterro foi realizado nesta segunda-feira, às 11h, no cemitério Getsemani, em São Paulo.

Granato nasceu em Campos, Norte do estado do Rio. Mas foi São Paulo a cidade que escolheu para viver 35 dos seus 66 anos. Dizia que lá era o lugar das oportunidades. E para ele foi.

Pioneiro na arte performática, o artista multifacetado absorveu todas as informações da capital paulista e as transformou em pinturas, desenho, música, objetos e performances que marcaram toda uma geração.

Com as performances "O urubu eletrônico"(1976), no Teatro Municipal de São Paulo, e "Ciccilo Materazzo em Mitos Vadios" (1978), na Rua Augusta, devolveu sua criatividade a São Paulo.

Parceiro de Helio Oiticica e Lygia Pape, Granato era "uma explosão", na definição do diretor de teatro Pedro Granato, um de seus três filhos. É lembrado como uma figura festiva, debochada, irreverente, mas ao mesmo tempo detalhista e cuidadosa com seus trabalhos, a família e os amigos.

Uma das amizades que cultivou até os últimos dias de vida foi com Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones. Na última passagem da banda pelo Brasil, em fevereiro deste ano, os dois foram até o Beco do Batman, na Vila Madalena, gravar um documentário sobre a turnê pela América Latina, para a BBC de Londres. Depois, seguiram para o ateliê de Granato e seguiram pintando.

Ainda que conhecido por suas aparições efêmeras e viscerais, Pedro conta que o pai sabia o motivo de cada gesto, de cada palavra. Um método desenvolvido por ele, para ele.

- Meu pai era um preciosista. Tinha tudo muito organizado. Era muito técnico e valorizava artistas que tinham o mesmo cuidado - diz Pedro.

Nos últimos anos, o artista se dedicou mais a pintura e a organizar sua própria obra. O resultado deste trabalho meticuloso e delicado poderá ser visto em breve no livro "Ivald Granato - Registro - Arte Performance", um catálogo luxuoso com os marcos de sua obra, que deu origem a uma exposição de mesmo nome, com acervo documental de seu trabalho nas décadas de 1970 e 1980. A mostra, inaugurada na última quarta-feira na Caixa Cultural de Brasília, está em cartaz até setembro.

Seus primeiros trabalhos, na década de 1960, tinham influência dos pintores cubistas, até ele se mudar para o Rio, onde cursou a Escola de Belas Artes da UFRJ e abriu seus horizontes.

Durante quatro décadas, recebeu vários prêmios, entre eles o de Melhor Ilustrador do ano (1990), da Editora Abril, e o Prêmio aquisição na Trienal de Osaka (1990), Japão, além do Prêmio Jabuti, como melhor capa de livro-processo de "Criação - Darlene Dalto 1993" .

Seu trabalho plural faz parte de coleções do Museu de Arte do Rio de Janeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museum Ludwig, na Alemanha, e Le Coq, na Espanha.

Eledeixa a mulher Laís, três filhos e oito netos.