LONDRES (Reuters) - A venda recente de uma tela de Gustav Klimt pelo valor recorde de 135 milhões de dólares finalmente confirmou que o mercado de arte está de volta ao nível estonteante a que chegou no final dos anos 1980.
Mas não existe entre os especialistas um consenso quanto às chances de que o colapso dramático que começou em 1990 venha a se repetir.
As grandes casas de leilões acreditam que as condições atuais são propícias ao crescimento sustentado, diferentemente do que aconteceu há 16 anos, quando o dinheiro especulativo, boa parte dele do Japão, deixou o mercado vulnerável ao colapso a partir do momento em que os indicadores econômicos começaram a cair.
Os especialistas em vendas de arte não têm tanta certeza disso, porém. Eles argumentam que alguns setores do mercado estão sobrevalorizados e que o mercado de arte, como outros, é cíclico.
A revista New York resumiu a incerteza que paira em torno do mundo rarefeito da arte em artigo intitulado "Cinco teorias sobre por que o mercado de arte não pode sofrer um crash (e por que isso vai acontecer assim mesmo)."
Anders Petterson, diretor da ArtTactic (www.arttactic.com), que analisa o mercado de arte, concorda que desta vez a distribuição geográfica e social dos compradores significa que o mercado está menos vulnerável a recessões econômicas em um país ou região.
Mesmo assim, ele vê razões para os investidores em arte se preocuparem.
"Acho que de muitas maneiras estamos nos aproximando de um cenário semelhante ao do final dos anos 1980", disse ele. "O motivo especulativo continua presente, e é por isso que creio que o mercado vai sofrer uma queda."
Ele disse que a perspectiva de curto prazo parece segura para os compradores de quadros de primeira categoria, quer sejam contemporâneos ou modernos, conforme destacaram os recordes obtidos pelas duas maiores casas de leilões em seus leilões mais recentes em Nova York e Londres.
Esta semana a Sotheby's promoveu o maior leilão da história em Londres: 164 milhões de dólares em obras de arte impressionista e moderna vendidos. No mês passado, a casa vendeu um Picasso por 95 milhões de dólares em Nova York -- o segundo quadro mais caro na história dos leilões.
A Christie's não ficou muito para trás, com leilão correspondente realizado em Londres na terça-feira que obteve o total de 160 milhões de dólares, o maior já conseguido pela casa.
DINHEIRO NOVO CHEGA AO MERCADO
Jussi Pylkannen, presidente da Christie's Europa, disse que o número de compradores de belas artes quadruplicou desde o boom dos anos 1980.
"Ocorreram mudanças sociais enormes nos últimos dez anos, com consequências para o número de pessoas em condições de gastar", disse ele à Reuters. "Pensamos na China e na quantidade de riqueza gerada nesse país, sem falar na Rússia e Índia."
Clientes russos compraram 7 por cento dos lotes à venda no leilão da Christie's em Londres, o comprador do Picasso de 95 milhões teria sido um russo, e, em 2004, o magnata russo Viktor Vekselberg pagou mais de 90 milhões de dólares por uma coleção de ovos Fabergé.
Petterson, da ArtTactic, disse que o maior risco para o mercado de arte está na economia global.
"Uma desaceleração econômica nos EUA teria consequências para todas as outras economias", disse ele. "Os primeiros a abandonar o mercado de arte não serão os colecionadores estabelecidos, mas os especuladores, e o fato é que o mercado atual parece estar sendo movido pela especulação."
Por Mike Collett-White