Ou a direção do Banco do Brasil aceita as exposições de arte sem censura ou é melhor fechar os seus centros culturais no Rio, em São Paulo e em Brasília. Passar a tesoura em mostras para atender esta ou aquela freguesia corrompe qualquer finalidade pedagógica que esses centros culturais deveriam ter como missão.

Arte é o território da instabilidade, do não explorado, da prospecção e da afronta, eventualmente. O Banco do Brasil tem todo o direito de não querer entrar nessa discussão. A pergunta óbvia é: então por que abrigou uma exposição chamada "Erotica"?

Mais chocante do que a falta de preparo para tocar um centro cultural é o vício autoritário do banco. Protestos contra obras consideradas blasfemas são rotineiras na história da arte; a regra é o museu ou centro cultural aliar-se à arte e rejeitar a censura.

Há dois exemplos recentes. Em 1999, o Brooklyn Museum, de Nova York, recebeu a exposição "Sensation!", que tinha como uma das sensações uma Nossa Senhora cujo manto era pontuado por cocô de elefante -um trabalho da artista britânica Chris Ofili.

O prefeito de Nova York à época, Rudolph Giuliani, ameaçou cortar a verba do museu se a obra não fosse retirada (para atender à fatia italiana e irlandesa de seu eleitorado) e o museu recusou-se simplesmente.

Em Buenos Aires, o Centro Cultural Recoleta, da prefeitura, não moveu uma palha em 2004 contra os protestos de católicos contra uma série de obras de Leon Ferrari que consideravam blasfema -entre as quais uma Nossa Senhora que se masturba diante de Cristo. A exposição foi fechada por 18 dias e depois reaberta -tudo por decisão judicial.

Qualquer gerente do Banco do Brasil sabe que há mais pornografia nas negociatas que o ex-diretor de marketing do BB Henrique Pizzolato fez com fundos de pensão do que em pênis cruzados feitos de rosário. Pizzolato foi acusado pelo Ministério Público Federal de integrar o braço financeiro do mensalão. Responderá pelos crimes de corrupção passiva e peculato (quando funcionário público apropria-se de recursos). Ele nega as acusações.

 

 

MARIO CESAR CARVALHO

DA REPORTAGEM LOCAL - Folha