Artistas plásticos e pessoas ligadas à cultura no Pará protestam contra o fim das atividades do Museu de Arte Contemporânea de Belém na Casa das Onze Janelas, onde funcionava há 14 anos. Os manifestantes produziram uma carta aberta para Maria Dorotéa de Lima, superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), solicitando que o órgão nacional se posicione contra a retirada do Museu de Arte Contemporânea da atual local.
O lugar, que servia de espaço de experimentação para artistas, deixa de funcionar após o governo do Pará ter publicado um decreto na última segunda-feira (20), determinando a criação do Polo de Gastronomia da Amazônia, que deve ser instalado no espaço que era ocupado pelo museu em Belém. Segundo o decreto, as obras do acervo serão guardadas e transferidas para um local ainda indefinido, onde deverá funcionar um novo museu.
O artista plástico Geraldo Teixeira acredita que a mudança é um retrocesso para a arte e cultura do Pará, pois o atual espaço compreende todas as necessidades que um museu contemporâneo necessita, além dos espaços adequados para a realização de oficinais, cursos e palestras.
“A retirada de um museu nacional e que está estabelecido há 14 anos é a prova de como o atual governo trata e enxerga a cultura no estado. Ali conseguimos trabalhar com todas as dimensões possíveis de arte. Atualmente estão sendo feitos trabalhos artísticos, laboratórios de arte e qualquer alteração prejudicará a classe artística irreparavelmente”, alerta Geraldo Teixeira. “A cidade e o estado pertencem as pessoas. Para realizar uma ação dessa teriam que ter consultado a população, e não ser decidido por um grupo restrito”, completa.
Déficit museológico
Em 2015, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) classificou o Pará com a segunda pior média nacional de museus por habitantes. O Pará tem apenas um museu para um grupo de 173 mil habitantes, ficando à frente apenas do Maranhão. A média nacional é de uma instituição para 57 mil habitantes.
“Belém e o Pará sempre colocaram a cultura para escanteio. Não temos uma quantidade de espaços adequados para criação e exposição artistas aqui. Pela falta de investimento dos governos muitas coisas já foram perdidas”, afirma Geraldo Teixeira, utilizando o bairro da Cidade Velha como exemplo do descaso público com a arte e cultura local. “Na questão do turismo, a Cidade Velha foi abandonada. Lá se concentrava a maior parte das azulejaria europeia da cidade. O poder público não se preocupou em preservar, ou criar iniciativas para a preservação da história da nossa cidade”.
Segundo Teixeira, os artistas não são contra a criação do polo de gastronomia, mas acreditam que a nova iniciativa não deve suplantar a antiga. “Nós incentivamos a criação do Polo de Gastronomia da Amazônia, mas não queremos que seja retirado o museu de lá. Belém tem vários outros espaços vazios e interessantes para o polo, espaços que podem ser revitalizados para esta iniciativa, mas substituir o Museu de Arte Contemporânea é inaceitável, por isso a nossa luta pelo museu, para não deixar cair no descaso. A rotina nos acostuma com tudo que é de bom e também com o que é de ruim. Se não brigarmos pelo espaço a cultura será derrotada mais uma vez. Vamos continuar lutando”, conclui.